Sunday, October 16, 2011

Tudo o que é bom um dia acaba

Tudo o que é bom um dia acaba.

O velho cliché que pode valer para os nossos subsídios de férias e de Natal aplica-se agora às minhas próprias férias. Acabaram e amanhã volto ao trabalho. E não escondo que a ideia de tornar a contribuir para uma economia e para um estado que me rouba como se eu fosse novamente o puto gordo no recreio da escola, não me parece nada apelativa. É que às tantas nem se trata tanto de criminalidade mas mais de bullying, tanto que estou farto de levar na tromba com toda uma panóplia de medidas, percentagens e impostos dos quais muitas vezes nem sequer percebo as siglas. Mas enfim, depois de duas semanas em intenso período de relax acho que não vale a pena estar já a emporcalhar a mente com este tipo de pensamentos e a desafiar o braço esquerdo que começa a formigar...

Não muito depois do nosso super-mentiroso Primeiro Ministro (pronto, lá vou eu outra vez...) anunciar as novas medidas de austeridade, já estava eu a fazer as malas para me fazer à estrada. Na realidade, tudo não passou de uma coincidência mas não escondo que acabou por ser uma p**a de uma coincidência. Enquanto o desgraçado dizia solenemente na TV "Eu peço desculpa mas na realidade nós já não somos tão soberanos quanto eu pensava e agora quem manda é aquela malta que nos quer comprar as empresas, que vamos privatizar à papo-seco, assim a preço de saldo e por isso em vez de tentarmos impulsionar a economia com medidas de incentivo vamos afundá-la ainda mais para enriquecer os nossos donos que detonam isto tudo se não nos portarmos bem..." (talvez não o tenha dito precisamente com estas palavras mas o conteúdo, não me venham com tretas, era este)... Enquanto ele dizia isso eu ouvia "Saguim, minha besta, arruma já os trapos e volta p'ra casa que isto vai ficar pior e ainda te vais arrepender amargamente dos dias que andaste a comer e a beber que nem um porco a sovar! Vá, desanda mazé!" E eu, porque gosto pouco de ouvir falar mal, desandei.

Mas, voltando um pouco atrás... Depois da viagem à Madeira fui passar uns dias a Ferrel, perto do Baleal, uma terra que ficou conhecida porque há uns anos quiseram lá fazer uma central nuclear. Nessa altura, o povo juntou-se para dizer que se fossem p'rá frente com aquilo podiam ter a certeza que iria haver sarrabulho dos antigos. E como o pessoal que usa gravata gosta pouco de sarrabulhos, até porque lhes deixa umas nódoas nas camisas que não saem nem por nada, e preza convenientemente a permanência dos testículos no sítio de origem, desistiu da central nuclear para gáudio dos ferrelenses. Afinal de contas, estavam a lidar com malta que se junta todos os anos para organizar uma corrida de burros à volta da igreja. Portanto, gente que não é p'ra brincadeiras.

Dias bem passados que foram esses, sim senhor...
Mas o grand finale estava para vir em grande estilo: dois dias num Hotel das Caldas de Monchique, daqueles com Spa e tudo. Toma, embrulha e não digas que vens daqui!

Antes demais, convém referir, que este menino que vos escreve NUNCA tinha entrado numa sauna. NUNCA tinha tomado um banho turco. NUNCA tinha levado uma massagem.
E não posso dizer que houvesse uma grande razão para ser assim... Penso que era apenas mais um caso flagrante de falta de categoria. É que eu definitivamente não tenho categoria para essas coisas. Eu é mais bejeca na mão, tremoços no bucho e os argentinos do Benfica a ganhar na TV. Mainada!

Posto isto: óleos relaxantes, piscinas de hidromassagem e ropõezinhos brancos são coisas de rabixo. Mas como também considero que qualquer homem tem direito aos seus momentos mais rabixos, e tendo eu uma mulher ao lado para anular quaisquer conotações menos viris, lá acedi a experimentar.

No entanto, um problema. Ao chegarmos ao Hotel, constatei algo que poderia já ter sido entendido mais cedo caso eu tivesse feito um exercício mental simples.

Termas = Pensionistas

Viram? Eu disse que era simples.

Portanto, só velhos.

Eu não tenho nada contra eles. Até porque, se tiver sorte, mais tarde ou mais cedo farei parte do clube e depois tudo o que não preciso é de uma horda de indivíduos a cravarem-me as dentaduras nos lóbulos das orelhas, como vingança por tudo aquilo que lhes desdisse. Mas enfim, eu ainda estou numa outra fase da vida e custa-me ver um snack-bar a fechar às 17h. É certo e sabido que os pensionistas às 19h já estão a "cabecear" em frente à TV, abençoados sejam, mas eu ainda não. Só a partir das 22h é que penso em aquecer a água para me ir deitar...

Na primeira noite o desafio foi encontrar um sítio para comer. O restaurante do Hotel era um pouco caro demais e, pelas regras instituídas, devia fechar a meio da tarde... Por isso, vimo-nos forçados a encontrar soluções. Estúpido como já me habituei a ser, entrei por uma pensão adentro, a única num raio de 50 km, atraído pelos preços convidativos da carta que se encontrava exposta na rua. Mas quando me deparei com o ambiente tétrico do interior do edifício, ambiente esse que faria o próprio Drácula verter uma gotinha de pânico, e constatando que nenhum ente vivo se encontrava na recepção nem ao seu redor, dei meia volta e regressei para junto da minha mulher que, sempre mais ajuizada do que eu, estava certa que aquela não era uma boa ideia.

Até que surgiu uma pessoa. Do sexo feminino. E me convidou a entrar...

Entre risos e gorgolejos de nervos, lá acedi ao chamamento da "senhora", chamemos-lhe assim, e entrei na sala de refeições, seguido por uma mulher contrariada e lixada da vida por eu ter vergonha de me livrar airosamente de situações como aquela. A sala de jantar era tudo aquilo que se poderia esperar de um sítio como aquele. Mobília escura e antiga, uma enorme e horrenda natureza morta na parede, luz eléctrica a imitar a de velas e apenas duas criaturas, também elas idosas, a acabar a refeição num dos cantos da sala... Ah e música de orgão daquelas dos vampiros a soar não percebi muito bem vinda de onde! Isto, tal qual.

Bom, tentando contrariar a palidez dos nossos rostos, comemos, bebemos, ignorámos um gato assustador que passou o jantar inteiro ao nosso lado a olhar p'ra nós, orámos a Satanás, sacrificámos uma virgem e voltámos para o nosso quarto. Bom, a parte da virgem e do diabo é mentira mas a do gato juro que é verdade. No entanto, estando de férias, tudo é p'ra aceitar com particular ligeireza. Não é um jantar "especial" que marca as nossas férias.

O que marca as nossas férias é mesmo o raio do Spa!

Bom, eu já expliquei que não tenho categoria, que não é a minha praia e essas coisas todas... Portanto já fiz um build-up para aquilo que aí vem. Ao segundo dia nas Caldas de Monchique, eu e a minha mulher marcámos uma massagem para dois, massagem essa que nos dava direito a usufruir do complexo termal. Portanto, de manhãzinha fomos logo p'ra lá. Na piscina estavam duas velhas e um gay, coisa que não me fez sentir particularmente à vontade. Nem a mim nem a eles, diga-se, porque os minutos que se seguiram pautaram por uma série de olhares fixos e de grande estranheza. Dentro da piscina, a velha 1 olhava fixamente para a minha mulher que, por sua vez, olhava fixamente para o vazio. Eu olhava fixamente para a frente, de modo a poder ver toda a gente pelos periféricos e percebia que o gay, por alguma razão bizarra, também olhava fixamente para mim. Isto enquanto a velha 2 olhava fixamente para o gay, talvez porque ele a estivesse a orientar enquanto ela fazia um qualquer exercício de reabilitação, talvez porque fantasiasse acerca de sexo gerontófilo com homossexuais... Enfim, não sei. Isto tudo no mais profundo e desconfortável silêncio. Até eu e a minha mulher decidirmos abandonar o local...

Seguiu-se o banho turco e a sauna. O primeiro mais agradável que o outro, verdade seja dita. Não que eu não tivesse curiosidade de saber o que sentiriam os frangos no interior de um forno (se é que um bicho esfolado e decapitado pode realmente sentir alguma coisa...), mas a ausência de colorau barrado nas minhas costas impediu-me de concretizar a experiência em pleno. Já o banho turco está longe de ser um banho e também não percebo porque lhe chamam turco mas parece-me que resulta. Resultava ainda melhor se a velha 2 da piscina não tivesse vindo atrás de nós, enfiado dentro da cabine connosco e começado a ressonar como um elefante marinho com os copos... Mas ao menos deu-me vontade de repetir.

E foi assim, entre experiências como estas, que chegou o momento da tal massagem.
Momento esse que, convém lembrar, foi também para mim uma primeira vez.

Quando avistei o dueto de massagistas, não vou negar que senti um certo alívio. Temia que fossem homens. Primeiro porque, não sendo de todo homofóbico, há um certo tipo de contacto físico que gosto de evitar com indivíduos do mesmo sexo. E segundo porque também tenho tendência para querer evitar que tenham esse mesmo tipo de contacto com a minha mulher. Assim só p'ra manter as coisas dentro do razoável e do limpinho.

Aproximámo-nos da sala e reparei que uma das massagistas tinha um sorriso significativamente mais aberto do que a outra. Portanto, percebi logo quem é que devia ter perdido a aposta e ficado comigo.

A massagem era de corpo inteiro e a menina achou boa ideia colocar-me duas coisas, que não cheguei a perceber o que eram, nos olhos. Lembrei-me dos romanos que colocavam moedas nos olhos dos mortos para os gajos darem ao barqueiro que os levava para o inferno ou lá o que era... Mas duvido bastante que uma coisa tivesse a ver com a outra. Imagino que fossem pétalas ou algo do género... O que devia dar-me um ar ainda menos digno, deitado naquela marquesa. Mas adiante...

Depois, a mulher colocou-me uma almofada por baixo das pernas para facilitar o seu trabalho. E foi aqui que começaram os meus problemas. Uma pessoa normal tem os pés p'rá frente. Um tipo como eu tem os pés pr'a fora à Charlot. Portanto, o que tínhamos agora era um indivíduo anafado (penso que podemos dizer assim) vestido com uns calções de banho com flores à havaiana, pétalas nos olhos e as pernas abertas elevadas e pés p'ra fora como se estivesse a dar à luz. E era esperado que eu relaxasse e ignorasse tudo isto.

Escusado será dizer que estava uma pilha.
Os pensamentos a sucederem-se a mil à hora.

Quando a massagista começou a mexer-me nos pés lembrei-me que teria sido boa ideia ter cortado as unhas no dia anterior. Tinha aparado as das mãos mas (que raio, estava de férias!) a preguiça impedira-me de fazer o mesmo com as outras. Penso que esta situação não fez maravilhas pelo trabalho da massagista que usava toda a sua destreza para conseguir cumprir a tarefa sem se cortar e apanhar tétano. Dedilhava como uma pianista russa enquanto eu procurava protegê-la, afastando tanto quanto possível as garras das suas mãos.

O resto do tempo, não posso dizer que tenha corrido mal. Fui untado dos pés à cabeça como uma enguia de escabeche, e massajado com todas as forças que a mulher tinha para atacar um corpo como este. Não se saiu mal mas digamos que para ela o dia de trabalho deve ter acabado por ali...

No final, disse-me docemente ao ouvido que a massagem tinha terminado e que podia levantar-me ao meu ritmo. Eu, como o meu ritmo é sempre... Como é que se diz... Ah sim, aparvalhado e à bruta, levantei-me para o lado errado da marquesa, aquele onde não estavam os meus chinelos, coisa que podia ter-me saído muito cara. A mim e ao reconstrutor facial da massagista que estava do outro lado.

Ora, esquecendo-me que estava coberto de óleo e portanto escorregadio como aquele americano que foi preso em Sintra, foi num misto de desequilíbrio e de passos de dança à Fred Astaire (se o Fred Astaire fosse bêbado) que fiz a viagem de 180º até aos chinelos, quase, QUASE, esbardalhando-me para cima da pobre massagista.

Ao recuperar a compostura, e perante o olhar de pânico da jovem, disse que até tinha ficado tonto perante o brilhantismo da sua massagem e saí dali p'ra fora, rumo ao quarto do Hotel.

Enfim...

São estas as memórias que levo para o retomar da labuta, do lufa-lufa do dia-a-dia e dos assaltos à mão armada do nosso Primeiro Ministro (que sabe bem o que isso é porque desde os seus tenros 37 aninhos que anda a papar filmes semelhantes no mercado de trabalho). E não são memórias nada más, atendendo àquilo que espera a maioria dos portugueses.

A verdade é que o Natal já não é p'ra todos.
Assim como não é p'ra todos ter um Ângelo Correia como anjinho da guarda (ai o braço esquerdo...)! Mas é em alturas como estas que temos de aprender a patinar, nem que alarvemente... Contrariar o visco e o sebum dos mentirosos e dos corruptos...

Para tentar chegar, sãos e salvos...

... ao grande par de chinelos...

Que é a felicidade.

2 comments:

ana oliveira said...

Beeeemmmm.....Relaxa pá! Deixa lá as unhas, deixa lá o 1º ministro, deixa lá isso tudo!!! Quanto ao gato que te mirou durante o jantar...era o prenuncio do que irias encontrar em casa...Isso sim é que não foi muito agradável. O resto......hahahahahaha!!!

Sexinho said...

Adorei e ri-me à parva com as (in)descrições!hahahahahaha!!!