Sunday, September 21, 2008

A Genialidade tem formato Outdoor

Uma destas sextas-feiras fiz uma viagem ao Norte do País. Fui ao Gerês e voltei no mesmo dia, de carro, comigo a conduzi-lo... só para se aperceberem da extrema dificuldade e do perigo iminente que constituiu esta minha aventura. Mas teve de ser, dado que se tratava de uma viagem de trabalho fui forçado a assumir a coisa com toda a seriedade que um certo pinheiro verde de cheirinho e uma determinada capa para volante com as cores da bandeira nacional permitiram. Sim, levei o meu carro.

O que dizer de uma jornada do Centro ao Norte do País num dia só, de uma incursão intensa às origens mais profundas da alma portuguesa, do fervilhar em mim de uma pseudo-alma de emigrante, ao palmilhar mais e mais quilómetros de estrada? Epá, o que eu vos digo é que há outdoors do melhor por aí. Tão sublimes que iam provocando um acidente através deste vosso amigo.

Comecemos pelo mais levezinho... um anúncio de uma empresa (atenção que há determinadas zonas do País em que o conceito de empresa é muito vasto. Uma "empresa" pode ser um anexo em pladur com meia dúzia de melões e um sujeito obeso e sebento com uma camisa cinzenta de alças acompanhado por um cão zarolho chamado BRAINE, porque segundo ele BRAINE significa castanho em inglês. Atenção que em muitos locais isto pode ser uma empresa em vias de tornar-se multinacional.) Bom, mas não nos percamos. Um anúncio de uma empresa de fabrico de lareiras. Até aqui tudo ok. O copy do outdoor, para os leigos, o copy é a mensagem escrita (toma que já almoçaste, leigo! Burro da m****), era: "Reacenda a chama em sua casa."

Picantezinho, não?

Até podia ser...

SE A IMAGEM NÃO APRESENTASSE UM CASAL OCTAGENÁRIO NU, ABRAÇADO AOS BEIJOS DIANTE DE UMA LAREIRA!!!

Ora, meus amigos, porque é que isto é errado? Eu sei que o Viagra veio revolucionar o sistema todo há já alguns anos, não precisam de o referir. Mas mesmo assim isto intriga-me. Antigamente, para muitos casais o chamado "mambo horizontal" levava um resfriamento, digamos, TOTAL, por volta dos sessenta anos. E eu acho isso uma boa medida. Aos sessenta anos há coisas que devem ser postas a hibernar para sempre. Há quem diga que no meu caso, essas coisas deviam seguir o mesmo caminho JÁ. Mas eu insisto em mantê-las activas contra a vontade do público e também da maioria das esquadras de polícia. De qualquer forma, não é de mim que isto se trata.

Ter velhinhos nus abraçados não é sexy, não é ousado, não é moderno...

é...

como é que eu...

bom...

epá é NOJENTO, ok?!

Esqueçam lá isso, procurem uma via mais tradicional. Eu nem quero imaginar a versão 2009 desta campanha:

- Depois do outdoor do ano passado, este ano temos de ser mais p´rá frentex rapazes, hem?!
- Chefe, chefe. Estive a pensar e só vejo uma maneira de atingirmos um novo limite.
- Sou todo ouvidos, Bonifácio.
- Agora, em vez de um casal de oitenta anos temos uma velha de 100. Mesmo a cair de podre, com bichezas e tudo, está a ver?
- Estou a ver e está a agradar-me, Bonifácio.
- Mas desta vez não temos o velho. Temos um burro! Um burro ou um boi, um dos dois. Talvez o burro! Mas que seja mesmo chocante, está a ver?!
- Brilhante. Força nisso então.

Não sei, parece-me um bocado puxadote demais. Lareiras muito bem, não me importava de ter uma, agora casais de idosos a fazer porcarias na minha sala... Digamos que há imagens mais agradáveis a reter na memória.

Bom, este outdoor foi difícil de encaixar mas não me preparara minimamente para aquilo que vinha a seguir.

Os outdoors da Prevenção Rodoviária querem-se chocantes, querem-se directos, querem-se "sem papas na língua". Mas querer-se-ão estapafúrdios? Depois desta viagem, para mim, é difícil dizer.

Estava eu a poucos metros de uma rotunda quando avisto um outdoor da tal Prevenção Rodoviária. O copy era o seguinte: "Não parou no STOP?". Ok, até aqui está correcto. Se um fulano não parar no STOP arrisca-se a apanhar com um velho (mais uma vez os idosos) a conduzir em contra-mão. Agora pensando bem, mesmo se pararmos no STOP nada nos garante que não somos colhidos na mesma, mas de qualquer forma mais vale parar.

O que é que os rapazes da Prevenção arranjaram como "device" para captar a nossa atenção e sugerir uma angustiante sensação de medo e consciência?

Quatro urnas. Duas grandes e duas pequenas, com as inscrições: pai, mãe, filho e filha.

Ora bem, isto chama à atenção? Chama, sim senhor.

Chama tanto que me ia espetando rotunda adentro, histérico com a estupidez a que tinha acabado de assistir.

E, para mim, a questão é só esta: desde quando é que o macaco Adriano trabalha em publicidade? É que há ideias que não parecem ter sido geradas num mundo racional.
Agora a sério, UMA FAMÍLIA DE URNAS?!! Mas ninguém percebeu que isto é imensamente parvo? Não vale a pena responderem, o outdoor estava lá e não resta qualquer dúvida.

Como tal, estes acabaram por ser os pontos altos da minha viagem. Acontecimentos fulcrais que me fizeram rir à gargalhada, fazer uma pausa de preocupação e pesar pela demência mental dos criativos envolvidos no processo e seguir o meu caminho com a leveza de espírito de saber que afinal existem por aí indivíduos um pouco mais estúpidos do que eu.

Que Deus vos dê muita saudinha e uma vida longa. Ele sabe o quanto preciso dos vossos outdoors.

5 comments:

Ricardo said...

Epah, como publicitário que sou não podia deixar de comentar não é? Muito bom indeed. Realmente há anúncios que vêm dos confins de uma cave escura onde habitam porcos mutantes que comem lama com larvas nojentas que estão constantemente em reprodução. Acho que por vezes a pressão é tanta para ter uma ideia out off the box, que nos surgem estas pequenas maravilhas. Por outro lado, quando vejo isto pergunto-me "Porque é que estes gajos ganham mais do que eu?".

André Oliveira said...

Fazem-se coisas muito mázinhas na publicidade e marketing em todo o mundo mas eu acho que estas pérolas nem sequer chegam a ser exemplo disso. Provavelmente são trabalhos dos próprios empregados das empresas, freelancers de qualidade duvidosa ou então das próprias gráficas. É a lei do mais barato, da cunha ou sei lá mais ou quê... E eu acho bem. Farto de ver paisagens em viagem estou eu. :)

Ana Negrão said...

Muito bom! Só eu é que não vejo esses cartazes fantásticos e sou do Norte..
Como futura designer, acho que se fazem coisas muito agressivas à vista mas muitas vezes os culpados não são os criadores mas quem toma a decisão. Isto é, o publicitário, o designer ou quem quer que seja apresenta o seu projecto mas o cliente diz: "oh pah e se pusessemos dois avós abraçados?". A proposta final é muitas vezes de um nível inferior à proposta apresentada. E o dinheiro fala mais alto...
Já agora...qual é a tua profissão André?
Respondes sempre aos comentários que te fazem?
Deves ser um azelha a estacionar! :P (outro post)

André Oliveira said...

Pois, eu continuo a achar que aquilo foi feito pela senhora das fotocópias da própria empresa ou então numa gráfica de vão de escada... :)

Sou copywriter de profissão mas sou licenciado em design de comunicação. E quanto aos comentários sim, até hoje tenho respondido sempre. Como não costumo ter muitos também não se pode dizer que seja uma tarefa muito árdua. eheh

Ana Negrão said...

Está certo...Acho que de momento satisfiz a minha curiosidade. Não te vou obrigar a responder mais hoje, claro. Vou-te encher o blog de comentários parvos e ainda vais suplicar para que eu pare..