Friday, January 6, 2012

Vai tudo correr bem

Ora então feliz ano novo, com muita saúde e alegria, e que ao contrário do que se diz ou prevê 2012 seja um ano de viragem e que traga só coisas boas.

...

Todos sabemos que é aldrabice mas não nos custa nada manter o teatrinho e fazer de conta que acreditamos nisto.

Se há coisa que o ser humano faz bem, além de violar crianças pequenas e matar focas à paulada, é fazer de conta. Mas por muito que isso aconteça, a verdade é que - e não sei se já reservaram o fim do mundo para Novembro ou não - merecemos o que quer que aí venha acertar contas connosco. E eu sei do que falo porque isto do fim do mundo tem sido uma obsessão valente para mim...

Há uns anos atrás, estava eu em casa sem nada de especial para ocupar o meu tempo quando decidi que o melhor e mais sensato era assistir a um documentário sobre Nostradamus e as suas profecias no canal História. Não se passaram vinte minutos até estar deitado em posição fetal, debaixo da minha própria cama e sobre uma pilha de fezes, a fazer contas ao tempo que ainda me restava. Depois de recuperar do choque inicial, passei por uma fase de investigação que incluiu horas na net em fóruns repletos de "weirdos", conversas e debates com toda uma panóplia de indivíduos nem sempre na plena posse das suas capacidades mentais e até o confronto quase violento com um índio maia autêntico.

Sim, isto aconteceu.

Quando estive no México virei-me para o tipo e perguntei-lhe que trapalhada era aquela, como se a culpa fosse dele. A resposta foi apaziguadora mas pouco conclusiva: disse que era o fim de uma era temporal (uma espécie de balancete e fecho de contas) e que logo a seguir se iniciaria uma nova. Que não era nada que devesse temer e que os bandalhos de Hollywood é que estavam a tentar explorar o conceito até ao último dólar. Sim, tudo bem, mas...

... E O NOSTRADAMUS???!!!!

Onde é que aquele macaco foi buscar teorias que batem nas do raio dos índios?! Copiou?! Como é que um alquimista francês do século XVI sabia o que se andava a escrever nas pedras do outro lado do mundo?! E porque é que raio é que não se vêem alquimistas nos dias de hoje? A malta nova não quer pegar nisso? Porque é que não há licenciaturas em alquimia nas nossas universidades? E depois não querem que haja desemprego...

Bom, como claramente o meu guia mexicano nada sabia acerca de Nostradamus, não o incomodei mais com perguntas e deixei-o sossegado. Talvez tenha feito mal, se calhar devia ter insistido até que chegar a uma conclusão definitiva, mas escolhi ficar na dúvida... E assim vou passar todo este torturante ano até saber o desfecho das coisas.

Mas também, convenhamos, o que é o fim do mundo?

Eu costumo andar de cabeça rapada. Dá-me style.
E também como já não tenho muito cabelo poupo-me ao ridículo de andar a imitar o Donald Trump por São Domingos de Rana, onde trabalho. Até porque Trump e São Domingos são coisas que não combinam, tipo queijo ralado e mousse de chocolate. Mas estou a divagar...

Quem me costuma rapar o pêlo é a minha mulher e num destes dias ela não estava em casa. Como eu queria o cabelo rapado decidi fazê-lo sozinho pela primeira vez até perceber que não era capaz de o fazer em condições. Como a maioria dos comuns mortais tenho especial dificuldade em chegar com a máquina a todos os pontos da cabeça e não entendo como certos freaks conseguem fazê-lo. Fiquei com a cabeça coberta de tufos, alguns maiores do que outros, alguns agarrados ao coro cabeludo, outros pendentes, como um psicopata esquizofrénico ou um texugo com lepra. Mas deixei-me estar porque sabia que ela ia chegar mais hora menos hora e finalizar o serviço em condições. Pus-me a secar a loiça e tudo. Até que ouvi um ruído nas escadas, junto ao meu patamar...

E me lembrei...

... que se alguem batesse à porta eu estaria completamente e "contranaturamente" FORNICADO!

As opções não eram muitas e as que haviam não era geniais.
Caso alguém batesse à porta, eu podia...


1.

Não abrir e ficar em silêncio como um troll assassino, à espera que a pessoa desistisse e fosse embora. Isto seria particularmente estranho dado que eu andava a fazer barulho com os pratos e as luzes estavam acesas. Se fosse algum tipo da TV Cabo deixava-o carregar no botão até fazer sangue mas se algum vizinho precisasse de alguma coisa era chato deixá-lo a tocar sabendo que havia gente em casa. Uma vez mais, preocupo-me porque já não moro no prédio de Benfica. Na altura, se me batessem à porta a pedir ajuda porque tinham a casa a arder eu era o primeiro a ir ao talho comprar costeletas para fazer um churrasco.


2.

Abrir a porta de boné ou com qualquer outro chapéu colocado na pinha (penso que de todas opções o boné ainda é o menos ridículo). Mas quem é que anda em casa de boné às oito da noite??? Penso que se algum vizinho me visse assim rapidamente a minha reputação no prédio mudaria para "aquele rapaz deficiente do último andar que mora com a irmã" ou alguma coisa do género...


3.

Abrir a porta e esperar que fosse o vizinho a sentir-se desconfortável por ter incomodado uma pessoa visivelmente doente. Pensando bem, esta acabava mesmo por ser a melhor opção porque habitualmente com o sentimento de pena vem uma valente dose de solidariedade. Talvez começasse a ser usual virem oferecer-me tachos de sopa, mantinhas e algo mais que me ajudasse a passar um Inverno quentinho... Acabou por ser uma oportunidade perdida.


Feitas as contas, foi falso alarme. Ninguém tocou e a coisa ficou por ali. A minha mulher chegou a casa, aterrorizou-se com a minha figura decrépita mas rapidamente tratou do assunto.

Agora, fim do mundo que se preze para mim é isto. É um gajo aperceber-se que fez uma coisa de tal maneira estúpida que aconteça o que acontecer o normal é pagar a factura com tamanhos juros que a vida nunca mais há-de ser igual.

No fundo, é isso que nos espera a todos.
Mas ao invés da credibilidade no prédio em que moramos e dos vizinhos se rirem de nós nas costas, o risco é mesmo isto tudo dar o berro.

2011 teve muitas coisas más: guerra, fome, corrupção, as consequências disso tudo... Também teve coisas boas como terem limpado o sêbo ao Carlos Castro mas infelizmente isso não chega. Era preciso ter-se feito mais em prol da humanidade para contrabalançar.

2012 promete toda esta bandalheira e muito mais, como a sequela de um filme chunga do Van Damme. Eu nem me importo porque até aprecio bandalheira mas o que me continua a lixar é o ordinário do Nostradamus que me está aqui preso no goto. Tenho-lhe cá uma sede que se o apanho meto-lhe a alquimia onde o sol não brilha...

Enfim, pode não parece mas até estou bem disposto.

E, desde que não me ponha a ver o canal História, vai tudo correr bem.

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