Monday, November 5, 2007

Há palavras fascinantes!

Sou um apaixonado pela palavra "lusco-fusco" e não pensem que foi por causa do sketch dos Gato Fedorento... Eu já tinha pancada antes disso.
A palavra "lusco-fusco" não só engloba aquilo que há de mais bonacheirão e patusco na cultura portuguesa como também realça a nossa habilidade lusitana de inventar palavras por tudo e por nada. Não somos conhecidos por economizarmos vocabulário, principalmente no que diz respeito aos palavrões, embora "lusco-fusco" não seja ordinário. Gostava de apertar a mão ao lavrador que ergueu os olhos remelentos da enxada, observou o horizonte e grunhiu por fim: "- Mas que belo lusco-fusco este..."

Não é tarde, não é cedo, não está tão escuro que nos faça acender as luzes de casa mas também não há luminosidade suficiente para nos pormos a ler um livro... o lusco-fusco, se fosse um indivíduo, seria com certeza mulato. Não é preto nem branco, está ali no meio termo. Se estou perfeitamente confortável com isto no que diz respeito a seres humanos, já no que concerne aos momentos do dia a história é diferente. Quem me conhece sabe que eu sou um sujeito de extremos, e o lusco-fusco enquanto conceito, há que dizê-lo, irrita-me profundamente. Decida-se, senhor! É dia ou noite, afinal?! É que eu não sei o que hei-de fazer! Se hei-de continuar a trabalhar porque ainda é de dia ou se hei-de bocejar e decidir não fazer mais nenhum porque já é de noite! O lusco-fusco, enquanto conceito, é uma tremenda perda de tempo! Já a palavra em si, inverte a situação por completo e faz-me aceitar a existência do lusco-fusco. É uma palavra que rima consigo própria, como se de um jogo se tratasse, ela brinca connosco e convida-nos à patusquice. Toda a gente adquire um certo nível de piada ao dizer "lusco-fusco", toda a gente mesmo. Sei que esta declaração pode ser polémica, mas acredito que até José Carlos Malato teria piada se dissesse a palavra uma vez ou outra nos concursos que apresenta. Sei que "piada" e "José Carlos Malato" são dois princípios que não se misturam, como água e azeite, mas a palavra "lusco-fusco" poderia funcionar como o ingrediente secreto para o sucesso. Seria mais ou menos assim:


(Malato)- Boa noite, Cláudia. Com que então veio do Cacém, não é verdade?
(Cláudia)- Pois vim, sim senhor.
(Malato)- Já fui muito feliz no Cacém... eheheheh!

Silêncio sepulcral na assistência.

(Malato)- Quando era magro... eheheh É que agora sou gordo como um hipopótamo! eheheh

Ninguém esboça um sorriso, permanece uma expressão de enfado na face de todos.

(Malato, a suar da testa, aproveita o silêncio para pensar)- Bolas, estou perdido! Ninguém achou piada e eu joguei as minhas duas cartadas mais altas: o engraçadíssimo "Já fui muito feliz..." e as clássicas piadas acerca da minha obesidade. Como é que eu vou desbloquear esta situação?! Ah! Já sei!

(Malato, para o público)- O Cacém é interessante, sobretudo no LUSCO-FUSCO!!!

Todos riem alegremente e olham Malato com carinho, neste momento não há ninguém que não goste dele.


Ora, é assim que funciona. Agora, a título de passatempo, experimentem contar quantas vezes é que a palavra "lusco-fusco" aparece neste post. Depois tentem dizê-la o dobro das vezes, durante o dia. Vão ver que se tornam muito mais populares, sobretudo entre as miúdas.

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