tag:blogger.com,1999:blog-59258752963818834192024-03-19T05:29:08.547-07:00A Hora do Saguimaquilo que contece quando nada há para fazer na selva...André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.comBlogger96125tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-36766480290803044732014-08-07T10:30:00.000-07:002014-08-07T15:22:56.989-07:00Um orgulho para o país e um pesadelo para a minha mulherSempre tive muito medo de ficar chalupa.<br />
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Eu, antes demais, sou uma pessoa que tem muitos medos. </div>
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Fantasmas, grandes alturas e camarões estragados são destaques num vasto leque mas não há pavor que me atormente tanto como o de perder o juízo. Claro que pode haver (e garanto que há) quem diga que sou um trombalazana demente que parece ter levado com bordoada em barda pela moleira adentro em criança e eu admito que há nessas palavras algum fundo de verdade. No entanto, posso não ser um exemplo de clareza e lucidez mas estou longe de ser maluco dos cornos.</div>
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Um chalupa, no meu entender, é um indivíduo que partiu para onde não o conseguimos seguir. </div>
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É uma pessoa que não tendo de estar confinada a um espaço fechado e sem arestas cortantes nos eleva o espírito por percebermos que, apesar dos problemas do dia-a-dia, ainda pertencemos a este lado da cerca da sanidade. </div>
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É, por exemplo, um sujeito que parava na zona do Saldanha perto da minha antiga residência. </div>
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Bem vestido, de fatinho escuro, mas que trazia sempre numa mão uma garrafa de espumante que levava frequentemente aos lábios e na outra um pau comprido e ameaçador. O seu ambiente de trabalho, digamos assim, dado que costumava lá estar sempre oito horas por dia com intervalo para almoço, era a entrada de um prédio devoluto junto à avenida Casal Ribeiro. Dizia que o prédio era dele e portanto tinha de guardá-lo. Aparentemente, as suas obrigações passavam também por ameaçar os transeuntes de paulada, sempre aos berros como era seu apanágio, mas, quando estava bem disposto, também não dispensava um pé de dança. Nunca percebi se a garrafa de espumante era sempre a mesma ou se era uma nova todos os dias. Também nunca confirmei se continha mesmo a bebida ou era apenas uma espécie de ritual imbecil: se o levar contínuo do gargalo à boca representava uma qualquer simbologia demoníaca de trompeta do Apocalipse. Sei que a dada altura, este chalupa arranjou um leitor de cassetes e já não se apresentava no <i>spot</i> sem <i>phone</i>s nos ouvidos. O acrescento pode não ter saciado a sua fome por porrada indiscriminada a desconhecidos mas, façamos justiça, trouxe ainda mais ginga às suas sessões públicas de <i>kuduro</i>. </div>
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Confesso que às vezes dava por mim a observar este espectáculo dantesco e a temer terrivelmente pelo futuro. O que quer que o mentecapto tivesse fumado ou ingerido andava por aí e podia arruinar-me o cerebelo com tanta eficácia como o fizera a ele... É por isso que ainda não desisti do sonho de me fazer acompanhar sempre por um provador, para passar a pente fino tudo que estará prestes a passar-me pelo goto. Pensei até em andar sempre com o meu gato debaixo do braço para o efeito (até porque, até ver, o diabólico leitão parece não ter nenhuma outra utilidade) mas acho que, só por si, isso já era um passo largo exactamente para o universo que pretendo evitar.</div>
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A verdade é que ao longo da minha vida tenho conhecido muitos chalupas e, por incrível que pareça, sempre que sou forçado a travar diálogo com um deles fico extremamente calmo, como se entrasse numa dimensão paralela e quisesse trazer um pouco de rigor e lógica onde não há nenhuma. É apenas uma forma de me enganar a mim próprio e afastar o medo de "virar a boneca", como se a chalupice fosse contagiosa.</div>
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Há cerca de um ano, estava eu num bar a festejar o aniversário da minha mulher quando reparei num homem, lá está, bem vestido e apessoado, a fazer uma estranha dança na outra ponta da sala. Eu sei que estranhas danças em bares não chegam para definir alguém como maluco mas este espaço era distinto e erudito e não se coadunava com o agitar frenético de ossadas e articulações que acontecia defronte de um aparentemente sereno (mas claramente em pânico) empregado de balcão. </div>
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A dada altura, constatando que eu não o estava a imitar na sua apalhaçada <i>performance</i>, a criatura virou-se para mim e gritou:</div>
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<b>- Então, tu não danças?!</b></div>
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Eu, porque me encontrava sentado e em grupo, e também porque considero a dança uma actividade inatingível ao corpo perro e inútil que tenho, atirei-lhe, lá está, com muita calma:</div>
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<b>- Não.</b></div>
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O bicho, não tendo achado a minha resposta satisfatória, replicou com os olhos esbugalhados:</div>
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<b>- Porquê?!</b></div>
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Procurando ignorar os risos nervosos dos meus convivas, respondi uma vez mais:</div>
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<b>- Porque não gosto.</b></div>
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Foi aí que, sofrendo uma espécie de epifania satânica, o chalupa se aproximou da minha mesa e, balançando as ancas como nunca, berrou:</div>
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<b>- É SÓ ABANAR O CU!</b></div>
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Em resposta à eloquente sugestão, decidi parar durante uns segundos.</div>
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Pensar na minha existência. De onde tinha vindo, para onde pretendia ir, tudo aquilo que me servia de inspiração e me construía a personalidade. Pensar em todos os degraus que subira e as barreiras que contornara até chegar àquele momento. </div>
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O momento em que um desconhecido, agitando-se como louco, me ordenava aos gritos para "abanar o cu".</div>
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Respirei fundo.</div>
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Pisquei várias vezes para humedecer os globos oculares e, sempre muito tranquilo, voltei a responder-lhe.</div>
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<b>- Eu não gosto de abanar o cu.</b></div>
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Percebi logo que, pela primeira vez, alguma coisa o tinha deixado estarrecido. </div>
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"Alguém que não gosta de abanar o cu?! Como é possível?!"</div>
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Ficou a olhar para mim como se sempre tivesse vivido debaixo de água e alguém o houvesse pescado de repente. Como um chicharro a resfolegar à tona.</div>
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"Como era possível não se gostar de abanar o cu?!"</div>
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Porque considerei bizarro e tremendamente desconfortável prosseguir com a celebração do dia especial da minha mulher à vista desarmada de um lunático petrificado que não estava a conseguir suportar o choque da minha resposta, lancei uma ou duas palavras para o ar. Para forçá-lo a sair do transe.</div>
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Tudo o que consegui foi que ele parasse finalmente de efectuar o seu bailado.</div>
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O que para mim já foi uma enorme conquista. </div>
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Com um ar mais sóbrio e "terreno", sussurrou:</div>
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<b>- Posso fazer-te uma pergunta?</b></div>
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Mau.</div>
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Tremi.</div>
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Ainda há quinze segundos falávamos em "abanar" e em "cu" portanto qualquer conversa que se seguisse a esta não podia ser de todo agradável ou interessante.</div>
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Mas lá está, tenho medo. </div>
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Medo de assumir perante mim próprio que estou diante de uma pessoa que é biruta e que daqui a uns anos posso ser eu a fazer aquela mesma figura diante de alguém mais são. Um tipo nunca sabe o dia de amanhã e são conhecidos os constituintes na minha vida, sobretudo de origem animal de estimação, que prometem levar-me à loucura a cada momento. </div>
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Mas que pergunta poderia ele fazer?!</div>
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Se em vez de abanar o cu preferia abanar outras partes do corpo?</div>
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Se apreciava barrar-me com manteiga de amendoim a cada quatro horas?</div>
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Se quereria ir com ele à Cruz Quebrada adorar um pombo morto?</div>
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O QUÊ, MEU DEUS?! O QUÊ?!</div>
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Muito hesitantemente, mas procurando manter a calma, fiz um gesto com a cabeça.</div>
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Para que me fizesse a tal pergunta.</div>
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E ela lá veio. </div>
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Solene.</div>
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<b>- Já tens calções p'ró verão?</b></div>
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Foi a última vez que frequentei um bar.</div>
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E também só a muito custo voltei a vestir calções.</div>
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Deus me livre e guarde de chegar a este ponto mas, e apesar dos meus receios, devo dizer que já estive mais longe. É que sem um braço ou uma perna, com todas as dificuldades que isso traz, um homem ainda funciona. Mas a perguntar se as pessoas "têm calções para o verão" segundos depois de sugerir que "abanem o cu" não se vai longe, digam o que disserem.</div>
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Além disso, eu tenho tendência para exagerar tudo. </div>
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Portanto se algum dia me der para ser chalupa devo entrar logo para o Top 3 mundial. Um orgulho para o país e um pesadelo para a minha mulher que certamente me daria guia de marcha na hora.</div>
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Mas se esse dia chegar...</div>
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E se me apanhar com uma garrafa de espumante e um pau nas mãos...</div>
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Prometo que a coisa não fica por ali.</div>
André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-1680620590449646192014-04-05T12:36:00.001-07:002014-04-05T12:36:53.230-07:00O campeão dos speedoO meu gato é um imbecil.<br />
Já lho disse muitas vezes na cara.<br />
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Não me pesa a consciência assumir isto publicamente dado que estou certo que ele pensa bem pior de mim, desde o dia em que calcou as patas gordas no chão cá de casa. Quem nos conhece, sabe bem que partilhamos o mesmo espaço segundo uma paz que pode estalar em bordoada a qualquer momento. Ele suja, eu limpo. Ele avacalha, eu arrumo. Ele destrói, eu arranjo ou ponho no lixo. O equilíbrio do pardieiro onde moro dispensa as energias cósmicas e os mais básicos princípios do <i>feng-shui</i>... É antes um sério teste ao meu autocontrolo e capacidade de recusar o impulso primitivo de esventrar a vil criatura e sair com as tripas dele ao pescoço, como um colar de missangas.<br />
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Enfim, mas não percamos tempo a falar de <i>fait divers</i>...<br />
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A verdade é que nos últimos meses, o diabrete sodomita que é o meu gato tem andado irreconhecível na sua doçura e procura de carinho humano. Ele é querer colo a toda a hora. Ele é esfregar o focinho ternamente. Ele é dormir aos pés como um bicho dos filmes da Disney. Só lhe falta cantar!<br />
De repente, esta besta torna-se em tudo aquilo que eu e a minha mulher sonhámos quando o trouxemos cá p'ra casa, uma espécie de "ursinho carinhoso" que não só proporciona bons momentos de lazer em família como ainda se abstém de cometer vilanagens durante o resto do tempo. Nada... NADA... dos traços que vinham a marcar a sua infame personalidade até então.<br />
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Posto isto, eu até ficaria contente e, de certo modo, orgulhoso, se não soubesse de onde é que vem esta bondade toda. Se a achasse honesta e livre de interesses. Se não a topasse à légua...<br />
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O BEDUÍNO ESTÁ ASSIM PORQUE TEM FRIO!!!<br />
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Ora, que vá bardamerda!<br />
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A mudança brusca do estado de espírito do meu gato é capaz de ser o único efeito medianamente positivo no tempo extremamente ranhoso que temos tipo em todo o país. Fosse eu uma salamandra peçonhenta e estaria muito satisfeito com esta humidade toda. Isto para lagartagem e moluscos está um verdadeiro petisco. Mas para os seres humanos, à parte de terem agora como melhores amigos os mesmos gatos que lhes infernizavam a vida há seis meses atrás, não serve não senhor.<br />
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Eu já perdi a esperança de que alguma vez possamos voltar a ter dias de sol. Acho que acaba por ser mais sensato aceitar que daqui para a frente há-de ser isto ou muito pior. Há quem se queixe do aquecimento global e da poluição mas eu não tenho dúvidas que a culpa está em duas classes muito particulares de indivíduos: os amoladores e a malta da agricultura.<br />
<br />Ora, os amoladores vocês sabem porquê.<br />
Não podem ver dois raios de sol sem que peguem no pífaro e venham estragar o dia ao resto das pessoas. Aquele maldito pífaro faz chover e, apesar de toda a gente saber que tem poderes mágicos, parece ser o segredo mais bem guardado da história. Países com seca era exportar para lá os amoladores e os pífaros e estava o problema resolvido. Não sei porque é que não tratam disso.<br />
Ora, estes tipos são o primeiro entrave ao solinho, os índios da dança da chuva dos tempos pseudo-modernos (porque desde puto que os ouço a andar pela rua e a chamar borrascas), os tinhosos anti-praia. O governo pede para que sejamos empreendedores e, por causa disso, até já me passou pela cabeça desenvolver um projecto musical intitulado "As mais belas baladas em pífaro de amolador", como maneira de os retirar da rua e abrir novas oportunidades de negócio que não envolvam controlar a meteorologia. Mas isto já se sabe como é: o <i>lobby</i> das flautas de Pan é grande e não dá hipótese a mais ninguém. O que me leva à minha segunda ideia de os fuzilar a todos.<br />
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De resto, a malta da agricultura também tem culpas no cartório porque todos os anos se queixa que não há chuvinha para as couves, que não há chuvinha para as cenouras, não há chuvinha para o resto lá dos legumes deles...<br />
Agora é calçar as galochas e andar a pescar hortaliça com água até ao pescoço.<br />
Por causa dos queixumes.<br />
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Claro que percebo a falta que faz a chuva às plantações, nem ponho isso em causa. Mas gostava de saber porque é que raio é que me lembram disso quando dou pelas meias molhadas em plena baixa lisboeta! ALGUÉM ANDA A PLANTAR TOMATES NO LARGO DO CARMO?! Então porque é que não me posso queixar da chuva?! Tenham paciência...<br />
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É verdade, estou cada vez mais amargo.<br />
Estamos em Abril e eu já não aguento mais a chuva e o frio.<br />
E nem as ternuras do meu super-interesseiro gato servem para escamotear a situação.<br />
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Estou de tal forma perturbado que chego ao ponto de recordar com saudade um bizarro episódio ocorrido há uns meses valentes, no prédio do estúdio onde trabalho e que partilho com muitos outros trabalhadores liberais (termo fino para "desempregados"). Estávamos na altura a aproveitar os últimos dias de verão e a entrar na cinzenta era de trampa em que nos enfiámos. Saí do estúdio ao final do dia, na companhia de um amigo, e reparei que no patamar do prédio pairava um cheiro fortíssimo a verniz. No entanto, como um dos apartamentos estava em obras, rapidamente associei o odor químico à existência de "trabalhos". Quando me aproximei do elevador, reparei que a porta dessa mesma casa estava aberta e tinha efectivamente sido aplicado o produto no chão de tacos de madeira. Sorri, perante a minha extraordinária perspicácia.<br />
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O que não me fez sorrir foi a visão que acompanhava a entrada desse mesmo apartamento.<br />
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Ao lado da porta aberta estava um indivíduo.<br />
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Dos seus quarenta e poucos anos.<br />
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Alto e gordo.<br />
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Badocha imponente.<br />
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Papada debaixo do queixo.<br />
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Peludo.<br />
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Que ostentava, simples e exclusivamente, sobre o corpo nu...<br />
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... uns <i>speedo</i> azuis.<br />
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(<i>speedo</i>, para quem não sabe, são fatos de banho tipo cuecas)<br />
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Eu não sei o que é que foi mais desconfortável...<br />
Se a reacção envergonhada do homem quando nos viu aparecer, se a visão apocalíptica daquele "deus Apolo" quase como veio ao mundo, se o facto de tanto eu como o meu amigo termos tido de esperar pelo elevador uns excruciantes segundos na sua companhia.<br />
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Julgo que ficaríamos igualmente atónitos se no mesmo sítio tivessemos visto duas renas a fazer o pino ou um mergulhador a assar chouriço. Nada daquilo fazia o mínimo sentido.<br />
<br />
Mais tarde, com calma, adivinhámos que talvez o homem tivesse preferido aplicar o verniz naqueles preparos de modo a não sujar a roupa ou, no limite, ficar com as vestes impregnadas a químicos. As explicações podem ser muitas mas nada justifica aquilo. E não há indemnização que pague os danos morais de tal imagem no fim de um dia de trabalho.<br />
<br />
Hoje, depois de meses a fio com um tempo de fugir, recordo com saudade o "campeão dos <i>speedo</i>".<br />
Por ser um símbolo do tempo em que estar naqueles preparos era um acto de libertação refrescante.<br />
Por ser um hino à loucura do verão.<br />
Tempo esse que não volta mais.<br />
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Tirem-me mas é daqui!<br />
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<br />André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-26595062200252933112014-02-12T09:29:00.001-08:002014-02-13T02:04:35.469-08:00É só comida, pá...Eu sou um indivíduo que paga várias dezenas de euros por mês a uma conhecida marca de telecomunicações nacional. O mesmo indivíduo, que sou eu, pouco ou nada vê de televisão sem ser algumas séries que a patroa põe a gravar na <i>box</i> (porque tenho tanto jeito para mexer em aparelhos novos como um boi-cavalo para aprender linguagens de programação).<br />
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Ora...<br />
Ainda assim, e porque pouco vejo, eu acho que passava bem sem os canais de TV que possuo.<br />
Quando era miúdo, primeiro tinha só dois e não me chegavam. Depois, passei a ter quatro e continuava a ser pouco. Hoje tenho quatrocentos e não lhes ligo nenhuma. Bonito e sucinto resumo da evolução dos tempos.<br />
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O que se passa nesta casa é que, e apesar da farturinha, tirando as tais séries que vemos à refeição (porque nem eu nem a minha mulher já temos pachorra para trocar mais do que cinco palavras um com o outro) só há um raio de um programa que pontifica nos ecrãs luminosos destes aparelhos de televisão como se tivesse sido pintado no vidro. Um programa que está a levar-me ao desespero e a acabar, passo a passo, não só com a minha vida mas também com o controlo que ainda possuo sobre a bexiga e outras válvulas potencialmente embaraçosas.<br />
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Um título do demónio chamado MASTERCHEF.<br />
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Amigos, nesta casa, e sem qualquer tipo de exagero (que eu não sou nada dessas coisas), esse seriado dá 60 minutos por hora, 24 horas por dia, 30 ou 31 dias por mês (Fevereiro incluído)!<br />
O ano todo, sempre... SEMPRE!<br />
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A minha mulher deixa-se estar a olhar para a TV com aqueles olhos vítreos e baços de quem só está à espera que o peito de frango acabe de caramelizar para me vir degolar durante o sono. Eu sei que posso estar a inventar coisas mas passei a dormir com um garfo de sobremesa debaixo da almofada pelo sim pelo não. Não entendo o fascínio generalizado por este programa e, para mim, a menos que me provem o contrário, até pode ser uma manobra de hipnose colectiva muito bem elaborada para erradicar da face da Terra todos aqueles cujas habilidades na cozinha não vão além de fazer chá. Portanto, devo estar em muito maus lençóis.<br />
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Mas até assumo ser uma coisa bem produzida e até algo interessante. Nada a ver com aquela que considero ser a pior série de todos os tempos da televisão de todo o mundo, a escória da programação, o sebo ressequido da grelha, o pus anal das telecomunicações... Também apelidado por "Querido mudei a casa". Isso sim é algo que assumo como ofensa pessoal por ser tão mau, mas não vou alongar-me demasiado acerca do assunto porque, diz o médico e o chefe da PSP da minha zona de residência, não me posso enervar.<br />
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Não tenho nada contra o Masterchef mas, e porque sou obrigado a conviver tanto tempo com isto, há alguns aspectos do programa que começam a provocar-me úlceras na alma.<br />
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Primeiro que tudo: quantos episódios é que tem realmente uma temporada?! É que isto dura para sempre. PARA SEMPRE! Eu vejo parte de um dos do início e estão lá trinta (e eu não sabia que havia assim tantas pessoas na Austrália). Mais à frente volto a ver e ainda lá estão todas, senão mais duas ou três. COMO É QUE ISTO SE EXPLICA?! Cheguei a ver episódios em que um dos tipos é algo massacrado pela crítica, ou porque deixou tostar o leitão ou arrefecer as batatas, não me lembro... problemas lá deles! Em qualquer outro programa do mundo, esse tipo, como lhe correu mal o cozinhado e aquilo é bota-fora já se sabe... Vai de vela. Mas ali não! Corre mal e ele não só fica como ainda lá está passado trezentos episódios a tempo de poder entrar a dada altura o filho ou a filha que entretanto já fez dezoito e nunca conheceu o pai...<br />
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QUANTOS EPISÓDIOS TEM UMA TEMPORADA DESTA PORRA, PÁ?!<br />
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Depois, é a importância que se coloca nas coisas... Eu gosto muito de comer e reconheço que boa papa tem arte e mais não sei o quê. Respeito muito quem sabe cozinhar e ainda mais quem se dá ao trabalho de o fazer para mim. Eu não consigo, porque não tenho a sensibilidade necessária e porque já é uma grande coisa acertar na sanita quando faço xixi. Cada um faz o que faz melhor. Mas... caros amigos... É só comida, pá. Não vale a pena chorar nem desesperar nem dizer que a nossa vida é um prato de perdizes de caça com legumes salteados. Tenham lá calma e pensem na família e nas pessoas que vos querem bem. Tal é o drama à volta das patuscadas que eu acho que as prioridades estão um bocado do avesso no raio da ilha dos cangurus, ó catano.<br />
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O meu avô tem noventa anos e já me comunicou a imensa estranheza com que verifica o fenómeno dos programas de culinária cada vez mais em voga. "Olho para a televisão...", diz ele, "Estão a fazer comida... Passadas duas horas lá estão eles a fazer comida... À noite, novamente a fazer comida...". O meu avô tem razão, senhores. É demais...<br />
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A SÉRIO, QUANTO DURA UMA TEMPORADA DO MASTERCHEF?!<br />
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E depois são todos amigos e carinhosos uns com os outros. Não digo que tenha de haver peixeirada e gritaria à americana, embora admita que às vezes nem é mal pensado para espevitar as coisas. Mas a quantidade de sorrisos, de gestos, de festinhas e das outras paneleiragens todas que cobrem o raio daquele gente de melaço já me começa a meter nojo! 'Tá bem que é uma abordagem diferente de <i>reality show</i> e que não querem lá ir pelo negativo mas bolas... É mesmo possível arranjar assim um grupinho de <i>teletubbies</i> saltitantes que se amam todos uns aos outros e a toda a gente do programa?! Não há quem se dê mal ou que não vá com a cara de alguém?! É assim tudo tão perfeito na Austrália?! Bardamerda!<br />
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E ISTO TUDO AO LONGO DE QUANTOS EPISÓDIOS, MESMO?!<br />
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A avaliar as centenas de concorrentes (cujo número, como que por magia, cresce a cada programa em vez de decrescer), estão sempre os mesmos três tipos. Dois cozinheiros gentis e fofinhos como pandas e um outro cavalheiro que é crítico e que se veste como se frequentasse a corte do Luís XIV. Às vezes gostam muito das comidas que provam, outras gostam um pouco menos, nunca acontece cuspirem a mixórdia para o lado com repugnância. Quanto menos não fosse por isso, até seria proveitoso levarem-me lá a preparar um dos meus cozinhados para que acontecesse algo diferente na série.<br />
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O Masterchef parece-me uma colónia de férias para deficientes. Ninguém perde, ninguém é expulso... No fim, há prémios para todos.<br />
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No Masterchef todos sorriem e são felizes. Quando choram é para dizer que o sonho deles sempre foi fazer comida para outros encherem o bandulho.<br />
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No Masterchef, um ovo estrelado demora duas semanas a fazer.<br />
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É UM PROGRAMA QUE NUNCA MAIS ACABA!<br />
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E a minha mulher continua a ver isto como se estivesse fora do alcance dela pegar no comando e mudar de canal. E eu, se quero estar um bocadinho ao pé dela, não posso evitar ver uma vez mais, e mais uma vez, tudo aquilo que vomitei ainda agora para este texto.<br />
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Só queria poder voltar a olhar para uma costeleta como antes.<br />
Sem ver à sua volta toda uma tabela de reduções e temperos e nomes em estrangeiro que me recuso a aprender.<br />
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Só queria voltar aos tempos do Carlos Capote e da Vacondeus.<br />
Em que a comida era só comida, despachava-se a coisa em vinte minutos e vamos lá embora que 'tá na hora do telejornal.<br />
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Só queria poder voltar a dormir descansado.<br />
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...<br />
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E devolver o garfo de sobremesa à gaveta dos talheres.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-54271004252891176992013-12-27T09:46:00.001-08:002013-12-27T10:03:09.392-08:00Agruras de um Natal passadoEstes governantes são tramados, pá.<br />
As coisas que aquelas cabecinhas arranjam p'rá gente não ligar demasiado aos aumentos que tarda nada nos vão obrigar a vender o rabo para sobreviver... E não pensem que isto é apenas mais um dos meus exageros. É que ainda há bocado vi no telejornal que vai subir tudo o que são prestações e contas em 2014, desde o gás à água, passando pela electricidade, prestações da casa e taxas moderadoras dos hospitais. A venda do rabo é cada vez mais uma realidade e só se safará quem tiver bom rabo. Da minha parte, posso garantir que estou em muito maus lençóis porque, da última vez que vi, o meu rabo tinha sido considerado "lixo" pela própria Standards and Poors. Provavelmente, safar-me-ei com um ou outro estivador menos criterioso... Mas até aí será complicado porque também os estivadores andam a passar mal.<br />
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E curiosamente até é de lixo que estou a falar. Esta história da greve da recolha, para mim, foi uma jogada de mestre. Com os efeitos desta greve, ao primeiro beduíno que levantar a voz contra a política dos aumentos, sempre podem responder que acabámos o ano atolados em merda até às orelhas e portanto, a partir daí, é sempre a melhorar. Portanto não me parece que hajam coincidências.<br />
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Lisboa está tão afogada em lixaria que parece que o terramoto foi na semana passada.<br />
Calculo que até leprosos medievais se recusariam a passar em certas ruas, da maneira como isto está. Eu sou solidário com os homens do lixo, não por causa da história de não quererem passar p'rás freguesias e tudo mais, que aquela malta tem é de trabalhar e calar o bico, mas devido a um exemplo em particular. Quando era miúdo, havia um homem do lixo na minha rua que tinha um cabelo que sim senhor. Forte, viçoso e com aquele lustro cor de petróleo que só meses de recusa à higiene podem explicar. Eu sempre prezei o meu cabelo, mais ou menos até à altura em que comecei a ficar sem ele, e portanto olhava p'raquilo um pouco como os putos do Funchal olham para o Cristiano Ronaldo. Na altura, daria ambas as minhas pernas por uma cabeleira com aquele calibre, primeiro porque o que gostava mesmo era de estar sentado a despachar sandes de marmelada, portanto podia bem passar sem elas, e segundo porque assim teria a certeza de que nunca, mas nunca, viria a experimentar as agruras da calvície.<br />
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Cresci fascinado pelo homem do lixo do cabelo de aço e nunca fiquei a perceber a verdadeira natureza de tal fenómeno: se eram genes, se a total ausência de contacto com H2O ou se simplesmente os vapores dos resíduos que fortaleciam o escalpe. Tanto quanto sei, o homem até podia ser careca, mas como não havia banho para retirar os cabelos mortos eles lá ficaram, entrançados, num enorme telhado de pladur capilar. Enfim, ídolos de infância todos temos.<br />
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Penso que, principalmente por isso, durante breves momentos também eu quis ser homem do lixo. Aliás, ao longo da minha vida quis ser várias coisas até ter tomado a decisão de ser aquilo que sou hoje. Que é algo que não consigo descrever mas que há quem defina como "freelancer", "jeitoso", "escritor frustrado" ou "aquele tipo que olha para mim fixamente e que me faz deitar a mão ao gás pimenta sempre que aparece". No entanto, as minhas ambições de futuro esbarravam sempre no trágico e rigoroso muro da realidade. Quis ser veterinário mas percebi que era mais do que fazer festinhas aos cães. Quis ser pescador mas percebi que isso era estúpido. Quis ser dono do mundo (e por alguma razão achava que para isso precisava de uma espada e de um cavalo) mas havia um amigo meu que queria ser a mesma coisa e já tinha o cavalo. Quis ser paleontólogo mas depois de ver o Jurassic Park em 93 toda a gente queria. Enfim...<br />
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No fundo, o que eu queria mesmo era um cabelo como o do homem do lixo.<br />
E daí o meu carinho por toda aquela malta.<br />
Estou triste por se verem forçados a fazer greve, pelos aumentos que aí vêm e por ter de enfiar a boca em dúzias de sacas fedorentas com restos do Natal para chegar até ao carro e ir para casa.<br />
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Estas tristezas todas lembram-me, já agora, uma das coisas mais comoventes que alguma vez vi na televisão. Curiosamente na altura do Natal e também curiosamente protagonizadas por um tipo com um cabelo que sim senhor: Michael Landon da série "Um Anjo na Terra". Quem se lembra desta série provavelmente já estará num lar de terceira idade a comer açorda por uma palhinha e saberá que o único intuito da mesma era fazer chorar. Um pouco como as entrevistas do Daniel Oliveira mas em formato seriado e ainda mais explosivas. Todos os episódios eram tristes à sua maneira mas este... Este rebentou a escala.<br />
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Bom, vou deixar aqui o <a href="http://www.youtube.com/watch?v=hrKwvt3m6WU"><span style="font-size: large;">link</span></a> para não me chamarem mentiroso.<br />
Se vos apetecer ver depois do telejornal de hoje à noite pode ser que fiquem com um impulso incontrolável de sacrificar ninhadas de pandas e de tatuar suásticas na testa, mas isso serão apenas efeitos secundários.<br />
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Ora portanto, a sinopse é mais ou menos a seguinte:<br />
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Aquilo começa com um puto deficiente (que se não é mesmo deficiente então é muito bom actor) que, em jeito de bónus, é também sem abrigo. O desgraçado está a roubar um queque e um conjunto de velinhas numa loja de conveniência. A dada altura, porque como é deficiente é também um bocado trôpego, o puto lá faz merda e o dono da loja percebe que está a ser roubado. Por pouco não lhe prega uma lamparina bem aviada na tromba porque o rapaz consegue fugir e esgueirar-se até casa. Aqui, "casa" é uma caixa de cartão num beco escuro e badalhoco. Ora, perguntam vocês porque é que o miúdo deficiente foi correr este risco todo para gamar um queque e umas velas? Porque fazia anos e queria celebrar...<br />
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...<br />
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Eu por esta altura já não sabia se chorava ou se me mijava todo.<br />
Tais eram as convulsões que sentia pelo corpo.<br />
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...<br />
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Ora, queria celebrar mas não estava sozinho. Tinha a companhia do seu único amigo: um gato sarnento a quem ele chamou repetidas vezes, pelo meio dos incessantes perdigotos que lhe saltavam da boca, de "o meu presente de aniversário". Enfim... Aparece Michael Landon com o seu extraordinário cabelo (semelhante ao do homem do lixo que eu conhecia mas com o factor champô à mistura) e, porque é um anjo e tem contactos privilegiados, consegue fazer com que um casal de classe média alta adopte o miúdo "especial". Ele lá vai para um grande casarão e tal, conhece o filho biológico do casal que surpreendentemente nem é muito mimado e durante um bom quarto de hora até parece que a coisa vai ter final feliz.<br />
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...<br />
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Aqui, entre o ranho que me escorria pelo peito até às virilhas, eu já tinha gasto duas embalagens de lenços e começava a achar que não valeria a pena abrir uma terceira.<br />
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A dada altura, por alguma razão há um fogo na casa e a malta que até ali tinha sido muito dócil e compreensiva não hesita um milésimo de segundo a culpar o deficiente e a correr com ele dali p'ra fora.<br />
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Tal qual.<br />
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Portanto, o puto lá regressa para a caixa de cartão, que por esta altura tinha mais SIDA que papel, e volta a passar as noites abraçado ao gato e a desejar que a catrefada de parasitas que a bicheza carrega no pêlo não o cegue durante a noite.<br />
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...<br />
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Fim.<br />
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Bom, é possível que não tenha sido 100% assim mas é assim que eu me lembro do raio do episódio. Ainda hoje, aos 31 anos, não há Natal que não me lembre do puto miserável e do Michael Landon sempre que vejo tristezas na televisão e fico receoso em relação ao futuro.<br />
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Espero que estes dramas todos se resolvam e que possamos começar o novo ano da melhor maneira.<br />
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Menos inquietação, melhores condições para os trabalhadores e se possível...<br />
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... mais saudinha para o meu cabelo, se faz favor.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-63475743782864590402013-11-08T09:10:00.001-08:002013-11-08T10:28:52.267-08:00Não me sirvam pudins azedosOs animais...<br />
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Estou só a lançar o tema para cima da mesa a ver se alguém começa a discussão.<br />
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É que eu não sei mesmo o que pensar deles...<br />
Quando era miúdo, era obrigado a manter-me afastado por razões de saúde. Não, não padecia da condição psicológica contra-natura de muitos pastores, tinha era mais alergias do que uma prostituta tailandesa e, por causa disso, não me deixavam ter cães nem gatos. Ok, tive tartarugas, peixes, hamsters e periquitos, mas aqueles que não tiveram mortes precoces e traumatizantes revelavam-se uma enorme desilusão de tão aborrecidos que eram. Toda a gente sabe que só os tem quem não pode ter animais de estimação a sério...<br />
<br />
Já na altura tinha dúvidas de como devia entender isto da bicharada e hoje esse debate mental (que é, a todos os níveis, perturbador) está a atingir picos de intensa bizarria.<br />
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No outro dia, passeava-me eu de cuecas pela cozinha (já não me lembro se ia beber um copo de água ou se estava apenas a ter um dos meus momentos "especiais"), reparei que no lavatório jazia o corpo adormecido de uma pequena sardanisca. Ora, na infância, e apesar de apreciar fauna no geral, apreciava também muitíssimo tudo o que pudesse estar envolvido com barbárie e selvajaria. Era uma criança de contrastes, acho. Eu podia passar a tarde toda, muito fofinho, a coleccionar cromos de animais selvagens ou a ver documentários na televisão, mas bastava chegar a casa e ver uma barata no corredor para exigir a sua cabeça, babando-me e aos guinchos, para junto aos meus pais. Isso ou ir eu mesmo, por minha iniciativa, desfazer-lhe o corpo e profanar-lhe a alma com a ajuda de chinelos, venenos ou lança-chamas (que infelizmente nunca havia na despensa, por mais que procurasse).<br />
<br />
Surpreender uma sardanisca no lavatório da cozinha lembrou-me um episódio semelhante ocorrido no passado, há muitos anos atrás. Numa outra casa, num outro tempo, o meu pai aprisionava um réptil em tudo semelhante num coador (porque também estávamos numa cozinha e era o que ele tinha mais à mão) e pedia-me que o matasse o mais rapidamente possível. Olhei à volta e não vi nada que pudesse ser usado para aniquilar a existência de tal micro-inimigo... Não havia aerossol, não havia um rolo de jornal, apenas... Um enorme e maciço MARTELO.<br />
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Peguei na ferramenta e aproximei-me do coador, com um brilho estranho nos olhos muito abertos, enquanto ouvia o meu pai berrar (com os olhos não menos abertos):<br />
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DEVAGARINHO!<br />
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DEVAGARINHO!<br />
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DEVAGARINHO!<br />
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...<br />
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Alcei o martelo atrás da nuca, sempre inexpressivo e focado na minha missão.<br />
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...<br />
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Desferi o golpe, fazendo um ângulo perfeito com o braço de modo a imprimir mais violência.<br />
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...<br />
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E PÁS NA CABEÇA DA BICHA!!!<br />
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...<br />
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Sardanisca espalhada pelo coador.<br />
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Pelo fogão da cozinha.<br />
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Pelo chão.<br />
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Pela parede.<br />
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E ainda hoje o meu pai deve andar a tirar bocados da mioleira dela dos dentes também...<br />
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...<br />
<br />
É por essas e por outras, por me sentir mal pelo que lhe fiz, que comecei a pensar na vida e a reflectir na génese desse meu apetite por sangue e tripas. Se eu gostava de animais, porquê tanto interesse em matá-los, mesmo que fossem nojentos, incomodativos ou desagradáveis à vista? Já na altura, bastava sair à rua para ver dezenas de pessoas com essas mesmas características (então em Arroios...!), por isso não era justo que uns fossem filhos e outros enteados. Com muito raciocínio e avaliação pessoal, fui crescendo, amadurecendo, desenvolvendo a minha maneira de ver o mundo e hoje, apesar de continuar a ter sentimentos díspares para com os bichos, posso dizer que respeito a existência de todos eles e só muito raramente opto por lhes fazer mal. Apenas quando as vozes na minha cabeça me obrigam a... fazer coisas.<br />
<br />
Mas estava eu a dizer...<br />
Encontrei a sardanisca no meu lavatório, muito pequena e esverdeada como uma esmeralda ao sol e, por alguma razão, senti por ela um amor profundo. Estava disposto a retirá-la do meu espaço com todo o carinho e languidez que os anos me ensinaram a ter. A minha oportunidade de fazer as pazes com o universo. Com gestos silenciosos e fluídos, como um mestre de tai-chi, retirei um copo de plástico do armário de cima e um pedaço de cartão para servir de base. Olhando a criatura nos olhos, como que querendo hipnotizá-la com a minha alma terna e caridosa, baixei sobre ela, com muito jeitinho, o copo de plástico para que não conseguisse fugir. Milímetro a milímetro, falando-lhe baixinho com doçura, coloquei também a base de cartão que me iria permitir transportá-la até à rua. Depois de cumprir o meu objectivo (e estando certo que, às tantas, a bicha nem sequer se apercebeu do que tinha acabado de acontecer), subi as escadas até ao terraço evitando os olhares gulosos deste presunto ambulante com patas a quem eu chamo de gato e guardo em casa como animal de estimação (a sério, este barriga de mijo está tão balofo que qualquer dia tenho de ir dormir para o sofá e deixar-lhe a minha cama...)<br />
<br />
Bom, cheguei ao terraço segurando a base e o copinho com a sardanisca nas mãos, como uma oferta minha à natureza, glorificando a vida e todas as coisas sagradas, e comecei a pensar o que iria afinal fazer com ela. Atirá-la do terceiro andar não me parecia lá muito boa ideia dado o trabalho que tinha acabado de ter e a harmonia que bailava candidamente no meu coração. Deixá-la no mosaico também podia ser espinhoso caso ela decidisse enfiar-se dentro de casa outra vez. Daí, a solução passou por atirá-la para o telhado, apenas separado do meu terraço por uma grade.<br />
<br />
Assim...<br />
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Coloquei os braços do outro lado do gradeamento...<br />
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Lancei à criatura um suave beijo de despedida, cheio de bondade e calor humano...<br />
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Retirei o copo de plástico...<br />
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Como eu suspeitava, ela não percebeu logo que estava livre...<br />
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Dei balanço com a base de cartão...<br />
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Atirei-a para a frente...<br />
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E depois de ter batido com a cabeça numa telha ficou INERTE E DE PATAS VOLTADAS!!!<br />
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...<br />
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...<br />
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F***-*E!!!<br />
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...<br />
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...<br />
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EU NÃO QUERIA CRER QUE AQUELE TRABALHO TODO TINHA SERVIDO PARA PARTIR O RAIO DO PESCOÇO À CRIATURA!!!<br />
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NÃO QUERIA CRER QUE O MUNDO ME IA FAZER ESSA DESFEITA!!!<br />
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40 MINUTOS DE MOVIMENTOS BRANDOS E SINUOSOS PARA, EM MENOS DE NADA, TER DE ASSISTIR AO CADÁVER A DESFAZER-SE DURANTE AS SEMANAS SEGUINTES.<br />
<br />
EU NÃO QUERIA CRER!!!<br />
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...<br />
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Recusando-me a aceitar os factos, fiquei agarrado à grade, ainda de roupa interior, a chamar pela sardanisca num tom misto entre o aflito e o incrédulo.<br />
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Estamos a falar de um homem de trinta anos, em cuecas, a segurar uma parte da sua casa com ambas as mãos e a suplicar piedosamente pelo corpo inerte de uma sardanisca.<br />
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Portanto, um bonito espectáculo para todo e qualquer vizinho que estivesse à janela.<br />
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...<br />
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Ainda ali passei uns cinco minutos, sem sucesso.<br />
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E só depois de lhe atirar duas pedrinhas que saquei de um vaso é que a vi levantar-se e seguir o seu caminho.<br />
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Muito provavelmente para morrer em paz, uns metros mais adiante.<br />
<br />
Ora, não é fácil admitir que aquela imensa odisseia para não roubar uma vida e respeitar todos os seres vivos acabou comigo de cuecas no terraço, a lapidar a carcaça ainda semi-viva da criatura que jurara proteger. Mas foi isso que se passou e é com a realidade que tenho de coexistir até ao fim dos meus dias. Portanto, se calhar continuo a ser a mesma besta do passado mas mais cínica, menos assumida e mais corrompida pelo mundo dos homens.<br />
<br />
Ao menos tenho feito um esforço para decidir se os animais são, ou não são afinal, criaturas que valham a pena. Às vezes tenho a certeza que sim mas outras, começo a achar que não...<br />
<br />
Por exemplo, eu reconheço valor aos javalis como indivíduos da floresta (que andam lá nas tocas deles e não chateiam ninguém) e como personagens de banda desenhada do Astérix. Têm com certeza qualidades e outros javalis que gostam muito deles mas, quanto a mim, não os ponham a servir à mesa...<br />
<br />
Sim, a servir à mesa.<br />
<br />
No outro dia, fui jantar a uma espelunca que já foi restaurante. Ao entrar, achei logo estranho que estivesse um porco selvagem a equilibrar-se nas patas de trás e a trazer a comida aos clientes mas como já vi tanta coisa estranha nesta vida (a maior parte dela no extinto jornal 24 Horas), em situações como estas prefiro calar a boca e seguir em frente. Houve quem dissesse que não se tratava afinal de um javali mas de uma pessoa em tudo semelhante a um suíno do bosque mas mais mal cheiroso e com o focinho mais cheio de gosma, mas não houve consenso em relação ao assunto. Mesmo que não fosse 100% porco, o que é certo é que a mãe fora com certeza violada por um, de quatro num celeiro, e passados nove meses trouxera ao mundo aquele artista. Portanto, até aí estávamos todos de acordo.<br />
<br />
Mas sem querer afastar-me demasiado do assunto (e até porque isto é apenas um bizarro aparte), no final do jantar consegui identificar entre os grunhidos da besta que havia pudim para sobremesa. Pedi-lhe um e ele trouxe-mo poucos minutos depois, embalando o pratinho no casco.<br />
<br />
À primeira colherada, espargi mais depressa a mixórdia do que levaria a ASAE a fechar o pardieiro e a mandar incinerar o corpo fedorento do empregado. Mais azedo do que aquele ex-pudim só mesmo um dos casacos coloridos do Goucha. Um verdadeiro atentado ao meu bem estar e um insulto a todos os grandes adeptos da nobre arte de realizar e degustar pudins.<br />
<br />
Chamei o porco e disse-lhe que a sobremesa não estava em condições, que estava estragada.<br />
O bicho ergueu as orelhas que tinha à frente dos olhos com indignação, raspou o muco das narinas com um fungo prolongado e pegou no prato da sobremesa com desconfiança.<br />
<br />
Vi eu e viram as pessoas que estavam comigo, o javali a refundir-se para uma zona mais isolada e encostar o focinho ao doce. Não convencido com o fedor que certamente lhe teria queimado os pêlos das narinas caso fosse um ser humano normal, pegou na minha colher e deitou, ele próprio, um pedaço da gosma amarelecida sob a sua roliça e babujada língua de porcalhão.<br />
<br />
Apercebendo-se de vez que dificilmente aquilo poderia estar mais podre e impróprio para consumo, a besta escarrou o pedaço que tinha jogado à boca para o mesmo prato de onde o tinha tirado e arrastou-se já quase em quatro patas de volta para a cozinha.<br />
<br />
Irritado como se tivesse sido alvo de insultos...<br />
<br />
Sem um pedido de desculpas...<br />
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Sem um grunhido arrependido...<br />
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Sem outro pudim que eu com toda a certeza recusaria.<br />
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...<br />
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...<br />
<br />
Portanto, isto aconteceu, assim como o outro episódio embaraçoso, e só perpetua a minha dificuldade em concluir se os bichos prestam ou não prestam.<br />
<br />
Se são bons ou são maus.<br />
<br />
Se devo tratá-los com apreço ou terraplaná-los à base de bombaria.<br />
<br />
Vou continuar a pensar no assunto.<br />
E entretanto vou permitir que continuem a aproximar-se de mim, de vez em quando.<br />
Desejando que me convençam com a sua simplicidade. Que me surpreendam com os seus gestos primitivos. E se possível...<br />
<br />
... Que não me sirvam pudins azedos.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-81522631424194156552013-10-21T04:49:00.004-07:002013-10-21T04:49:53.086-07:00Uma nova era...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkCNSAlSUJDSE92DA4e_C_ImRQHSjnVrfBgfhL0iJ-KiLew91zrzSXcpwROHeqH1AAax5Kr8gLZ4jC1N3IWrDYs370zFjqtCVl1jTHrqtawJ6m0G8ahTZg0FFlq9uDfVRF1cpBUxTOSedw/s1600/suricate-em-grupo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkCNSAlSUJDSE92DA4e_C_ImRQHSjnVrfBgfhL0iJ-KiLew91zrzSXcpwROHeqH1AAax5Kr8gLZ4jC1N3IWrDYs370zFjqtCVl1jTHrqtawJ6m0G8ahTZg0FFlq9uDfVRF1cpBUxTOSedw/s320/suricate-em-grupo.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
O meu muito obrigado àqueles que estiveram presentes na Biblioteca Camões no último Sábado. O meu ar de suricato cadavérico está relacionado com o estado de extremo cansaço em que me encontro e que estou a tentar ultrapassar.<br />
<br />
Mas ainda assim deu-me muita força ter visto lá tantas caras amigas.<br />
<br />
Vi também outras inimigas e demoníacas mas isso é porque quando estou cansado vejo coisas.<br />
<br />
E sou perigoso.<br />
<br />
Pronto, para quem não conseguiu ir e gostava de ter o livro, a informação para a encomenda encontra-se aqui à direita. Isto enquanto não disponibilizo a lista de livrarias onde o bicho vai estar, claro.<br />
<br />
Entretanto, já para a semana começa uma nova era e nova vaga de textos aqui no estaminé.<br />
Porque me faz falta escrever disparates e celebrar o absurdo que é a vida.<br />
<br />
Espero ter-vos sempre a celebrar comigo.<br />
<br />
Quero também criar uma mailing list para notificar sempre que colocar um texto novo.<br />
Quem quiser ser adicionado escreva um mail com o subject ADICIONA-ME para horadosaguim@gmail.com<br />
<br />
Isso ou coloque seguir por email também aqui à direita ou acompanhe-me no twitter.<br />
<br />
O Saguim é chato, não é?<br />
Pois é...<br />
<br />
Abraço a todos.<br />
<br />André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-86648835182069389162013-10-16T04:53:00.001-07:002013-10-16T04:53:23.636-07:00"Hora do Saguim - O Livro" este Sábado às 19h...... na Biblioteca Municipal Camões em Lisboa.<br />
<br />
É desta! Vemo-nos por lá.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dx20NrznxK9kf03rcZPteUp9GF8Ch641-TDt1CMHU5ZWcNki9P5LJFvLVGr5bZ3WSwPhTQ9oxtxFjwxp55HQg' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-83460096242676013312013-10-10T15:20:00.005-07:002013-10-10T15:22:06.130-07:00Aí está o malandro! Marquem na agenda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ1S6X1t26heGmu4LjLTnNaXa_l9PlEZ_B5Gnez_fkURTANUsXjES7R9jtCjq3pRMyEZYHpK6xbc5dKal3VpX3Daz4S0kKOoUhwmjjfdLl7dZHN3I-3_OsvLiKOfoTEs5WJErW1A0xRBxL/s1600/convite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ1S6X1t26heGmu4LjLTnNaXa_l9PlEZ_B5Gnez_fkURTANUsXjES7R9jtCjq3pRMyEZYHpK6xbc5dKal3VpX3Daz4S0kKOoUhwmjjfdLl7dZHN3I-3_OsvLiKOfoTEs5WJErW1A0xRBxL/s400/convite.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Portanto, é p´ra irem reservando o final do dia 19, ok?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Eu sei que é só deste Sábado a oito mas a malta põe-se a fazer planos e depois é uma chatice. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Assim fazem planos na mesma mas ao menos sabem que estão a faltar a uma apresentação do catano!</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Entretanto ainda vos volto a lembrar a meio da próxima semana.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Quero que vão todos e que levem amigos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Eu se me apetecer às tantas também passo por lá, p'ra morder o ambiente.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
E é bom que veja a casa cheia.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Senão está prometido que vou sacrificar um bando de pinguins. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Dos mais pequenos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Depois não digam que eu não avisei...</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Até muito breve.</div>
André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-70373375656906328672013-09-05T05:19:00.001-07:002013-09-05T05:19:14.539-07:00"Hora do Saguim - O Livro" a caminho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9oqVbXGC3ej9DXqTiL-v2TzoAMxfYg_XfJFUjps7jPjXkmRW2_-hs2XRYxiIEhSgGeSn5grpYSbS2a57Czm1L70Dy0IzYciMaPt3W7frs-LA0e35r3-hLr2dC95HyF_yQKNvTFukw1umL/s1600/kSAGUIM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9oqVbXGC3ej9DXqTiL-v2TzoAMxfYg_XfJFUjps7jPjXkmRW2_-hs2XRYxiIEhSgGeSn5grpYSbS2a57Czm1L70Dy0IzYciMaPt3W7frs-LA0e35r3-hLr2dC95HyF_yQKNvTFukw1umL/s400/kSAGUIM.jpg" width="260" /></a></div>
<br />
<br />
E é assim... Quem promete e não é político, normalmente cumpre.<br />
<br />
O livro está feito, a capa está pronta e o lançamento será garantidamente em Outubro.<br />
O próximo post que aqui colocar será o convite para a apresentação do bicho, portanto estejam atentos. Isto se não me apetecer meter antes um powerpoint com gatinhos... Só p'ra adoçar o palato.<br />
<br />
Recapitulando: o ilustrador da capa foi o <a href="http://pedrocarvalho-arteblog.blogspot.pt/">Pedro Carvalho</a>, a designer da mesma foi a Sofia Mota, o conteúdo é da total responsabilidade do hominídeo que atafulhou este mesmo blog de parvoíce e a editora é a <a href="http://edicoeselpep.blogspot.pt/">El Pep</a>. Já a energia que vos permite ler isto no computador, em príncípio é da EDP. Ou então é de outra companhia que a DECO vos convenceu a contratar para ganhar algum por fora.<br />
<br />
É assim a vidinha...<br />
<br />
Vemo-nos em Outubro.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-19285387828865020862013-08-11T10:29:00.000-07:002013-09-05T05:19:33.574-07:00Tá quase...Malta da pesada... Só para ir dando notícias.<br />
<br />
O livro está 100% terminado e revisto.<br />
Tivesse sido outra pessoa a escrever e talvez estivesse bom. Mas como fui apenas eu, está o que está.<br />
<br />
De qualquer maneira, agora vai mesmo acontecer e já não dá p'ra voltar atrás.<br />
<br />
Em Setembro (ou o mais tardar no início de Outubro) temos o bicho à solta.<br />
<br />
Entretanto, muito me queixei eu que não havia nenhuma editora que quisesse pegar nisto e eis que apareceu uma: a <a href="http://edicoeselpep.blogspot.pt/">El Pep</a>.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrrDQPM6zWzLnkZxKr5zSWD04QcorPGvm2wYNCjVqey80jujKT9wObWVBrPNQ7TOBMhC2Pg-w9nssGiAChckUs84d5E8QLfb8FH8qcnyCWEUdutAmAF0NtzICjN_ey6W8ZRc-9jULbVTr/s1600/logo-blog-el-pep2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrrDQPM6zWzLnkZxKr5zSWD04QcorPGvm2wYNCjVqey80jujKT9wObWVBrPNQ7TOBMhC2Pg-w9nssGiAChckUs84d5E8QLfb8FH8qcnyCWEUdutAmAF0NtzICjN_ey6W8ZRc-9jULbVTr/s320/logo-blog-el-pep2.png" width="320" /></a></div>
<br />
Uma "casa" independente que tem lançado muito bons projectos, entre a banda desenhada e a literatura. Prepara-se para lançar o meu, por isso talvez seja este o início do descalabro.<br />
<br />
Da última vez que me meti com uma editora fui burlado à bruta.<br />
Portanto, desta vez o meu objectivo é tentar burlar a El Pep. Ainda estou a ver como.<br />
<br />
Bom, desta é que é...<br />
<br />
Beijinhos e até Setembro.<br />
<br />
Ou início de Outubro, o mais tardar.<br />
<br />
...<br />
<br />
Ah! Cuidado com o calor...<br />
<br />
Pomada nessas virilhas.<br />
<br />
...<br />
<br />
Vocês sabem...<br />
<br />
...André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-38272913535517041712013-07-10T02:33:00.003-07:002013-09-05T05:19:46.675-07:00HABEMUS SAGUINO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO8vXxhtn-RPMfTMN6GzNgBLcOlptzjDRIF9H9HdCuRRuNnThDOuVLu4cvTWQ2eRRKYpyJUta6LuGUzEEkNchDz8x0rvm8C3GlMv0NAJquEBx6HejgLP1chx12KfGmWBAViOoif9DOwJC-/s1600/ng2434558.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO8vXxhtn-RPMfTMN6GzNgBLcOlptzjDRIF9H9HdCuRRuNnThDOuVLu4cvTWQ2eRRKYpyJUta6LuGUzEEkNchDz8x0rvm8C3GlMv0NAJquEBx6HejgLP1chx12KfGmWBAViOoif9DOwJC-/s320/ng2434558.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
O livro está escrito e paginado.<br />
Agora está a ser revisto e a capa a ser terminada.<br />
<br />
Vai ser lançado em <b>Setembro</b> e até lá ainda vou anunciar mais uma ou outra novidade.<br />
<br />
Portanto, ide de férias, aproveitai a boa vida e depois estai disponível para parvoíce.<br />
<br />
Mainada.<br />
<br />
<br />André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-29804985048546920092013-06-07T03:21:00.001-07:002013-09-05T05:20:00.643-07:00Parece que é desta...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpV-L390MciSNBHtRBzUKHxqvUg0SiB2xeYZvhFRrwm5tEhvoYyX55UzW04IpuPRPuqPwswaD_BIYXdWnKY1-xx08y7obqcbDvyxxOISMc6zyhUCdsHv5LEicqwczE39h2c7p2Mfs5AxKw/s1600/biblia+leitura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpV-L390MciSNBHtRBzUKHxqvUg0SiB2xeYZvhFRrwm5tEhvoYyX55UzW04IpuPRPuqPwswaD_BIYXdWnKY1-xx08y7obqcbDvyxxOISMc6zyhUCdsHv5LEicqwczE39h2c7p2Mfs5AxKw/s400/biblia+leitura.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
É comummente aceite que sou um tretas mas ainda assim gosto de honrar a minha palavra.<br />
<br />
O livro sagrado está quase concluído!<br />
<br />
E o livro da "Hora do Saguim" também.<br />
<br />
Falta apenas escrever 4 textos exclusivos e segue para revisão.<br />
A capa vai estar a cargo do <a href="http://pedrocarvalho-arteblog.blogspot.pt/">Pedro Carvalho</a>.<br />
O prefácio foi escrito pelo meu bom amigo <a href="https://www.facebook.com/sa.granate">Sá Granate</a>.<br />
Vai ter cerca de 300 páginas.<br />
E tudo graças ao esforço e ao apoio de <b>zero editoras</b>.<br />
<br />
Portanto, já se vê que vai ser coisa bonita.<br />
<br />
'Tá quase...André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-83051951713516347692013-03-25T05:42:00.002-07:002013-03-25T05:42:54.809-07:00Tenho saudades tuas, DavidÀ medida que um tipo vai envelhecendo vai ganhando interesses inesperados e redescobrindo memórias surpreendentes. Quando digo "um tipo" estou a falar de mim próprio, evidentemente. Estou a tentar implementar aos poucos esta mania de falar na terceira pessoa, sempre como "um tipo", e acho que dentro de um ano ou dois já é coisa para exportar lá para fora. Tentei fazer o mesmo há tempos usando antes o termo "desgraçado" mas, por alguma razão, as pessoas não aceitaram tão bem. São feitios...<br />
<br />
Mas enfim, hoje em dia dou por mim a ouvir música que não ouvia na altura em que foi feita, a ver filmes que dantes não me interessavam para nada, a gostar de coisas que não gostava, só pela época que representam e pela nostalgia que me trazem. Posso estar vinte a trinta anos atrasado mas a verdade é que não me importo muito com isso. Desde que um desgraçado possa tirar daí momentos de genuína comoção, acho que é aposta ganha. Viram? Desgraçado não é tão eficaz, de facto.<br />
<br />
E se aquilo que eu ontem desprezava hoje faz as minhas delícias, que dizer de tudo o resto que eu já venerava? Tipo a série de animação "David, o Gnomo"?!<br />
<br />
Uma vez mais digo: não tenho nada contra nem a favor dos anões. Eles são como são e eu sou como sou, tenho mais meio metro e metade do tamanho do crânio, é certo, mas fora isso pouco nos afasta. Sei que eles por regra têm menos tolerância ao álcool do que as pessoas de dimensão dita normal, mas como também deixei de beber há uns bons meses calculo que até nisso sejamos parecidos. Os anões, é preciso dizê-lo sem rodeios, a meu ver não são nada de especial.<br />
<br />
Já quando se fala de gnomos, a conversa é diferente.<br />
Adorava-os em criança e, caso tivesse hoje uma doença grave do foro psicológico, continuava a adorá-los e a acreditar na sua existência.<br />
<br />
Para começar, usam aqueles chapéus bicudos que tanto gabo nos Papas (até falei nisso no texto anterior). Continuo a achar que é preciso um indivíduo estar muito seguro de si e da sua sanidade mental para colocar um bicharoco daqueles todos os dias na pinha e achar que se está em condições para sair para a rua. No entanto, duvido que os gnomos associem ao adereço qualquer significado religioso... O que me levanta dúvidas quanto à posição relativamente às questões raciais. Há qualquer coisa de Ku Klux Klan naquele outfit mas prefiro não pensar muito no assunto. É certo que nunca vi nenhum sujeito de raça negra nos episódios de "David, o Gnomo" mas também não é menos certo que toda aquela realidade de floresta e não sei mais o quê pouco tem a ver com o Sul dos Estados Unidos. Lá está: não vale a pena ir por aí.<br />
<br />
Depois, tanto David como Lisa (a esposa) eram idosos... E sabemos como as crianças apreciam idosos.<br />
Eu não era excepção, de facto sentia empatia com velhotes mas hoje vejo as coisas com outros olhos. É que a grande generalidade dos gnomos que apareciam na série tinham já uns Invernos a mais, o que me leva a suspeitar que se a população gnoma era já envelhecida na altura, hoje já pouco deveria restar da mesma. Sou capaz de imaginar David com o chapéu meio murcho, sentado numa poça de mijo a ver o Goucha e a queixar-se que "Ser gnomo no meu tempo é que era e a malta nova não quer pegar nisto..." Enfim, preocupações que não me assombravam mas que actualmente, viciadas pela vida adulta, não deixam de surgir na ideia.<br />
<br />
Para quem não via a série, David, além de gnomo, era também uma espécie de veterinário. Tipo, curava os animais que estivessem doentes, que tivessem sido apanhados em armadilhas ou que sofressem de uma maleita qualquer. Nenhum dos episódios abordava questões de ordem médica mais complexas ou até mesmo embaraçosas (não me lembro de ver David a ter de retirar um espinho do escroto de um texugo, por exemplo) nem sei se prestava serviços no âmbito da psicoterapia ou de medicinas alternativas, mas se tal acontecia deduzo que tais cenas tivessem sido registadas <i>off the record</i>. O tamanho de David não deixava de ser uma vantagem no exercício da sua profissão porque lhe permitia observar de perto e em grandes dimensões quaisquer orgão que tivesse de tratar. No fundo, uma boa maneira de se poupar uns trocos num microscópio. David era manhoso e sabia-o. No entanto, era também bastante estúpido dado que nunca o vi receber um cêntimo pelos serviços prestados. Os bichos deviam agradecer e dizer que pagavam no fim do mês quando recebessem e o otário dizia que sim e voltava para o buraco a cantarolar e a equilibrar o chapéu bicudo na cabeça. Enfim, há ursos...<br />
<br />
Já a Lisa, sejamos sinceros, era uma mula que não fazia nada. Estava gorda como uma porca com um problema glandular e isso é fácil de explicar pelo simples facto que raramente saía do covil que partilhava com o marido. Seria uma <i>trophy wife</i> não fosse o seu aspecto asqueroso e abrutalhado em cima do qual, equilibrava também ela, o seu chapéu bicudo. Ok, podem dizer que provavelmente tratava da lida da casa. Mas quando a casa tem cerca de quinze centímetros quadrados digamos que as tarefas não podem consumir muito tempo ou energia. De qualquer maneira, acredito que houvesse uma certa tensão entre ela e David por causa da sua ineficácia em trazer dinheiro para o agregado familiar. O sair todos os dias para ir trabalhar e o regressar à noite com um sorriso idiota na cara e os bolsos vazios deviam encher Lisa de dúvidas e inquietação. Inquietação essa que nunca é verdadeiramente abordada na série, diga-se.<br />
<br />
No entanto, a relação entre os dois não parecia má, embora profundamente assexuada. Os raros momentos de carinho consistiam no esfreganço vigoroso dos narizes, prática que como é sabido foi tornada célebre pelos esquimós. Julgo que pouco devia ter a ver uma coisa com a outra, dado que aquela malta nunca devia ter visto um esquimó à frente, provavelmente era apenas uma maneira de mostrar qualquer coisa parecida com afecto sem ter de aplicar demasiado esforço nem correr o risco de ser erótico. E erotismo com aquelas duas aventesmas era algo para patrocinar os meus pesadelos durante meses.<br />
<br />
Mas nem tudo era miserável, David fazia-se sempre transportar no dorso de uma raposa que chamava com um assobio. Provavelmente o único animal honesto e que assim recompensava os serviços de enfermaria prestados pelo gnomo. Uma espécie de limusina com motorista sempre ao dispor não era para qualquer um. Quando era criança, vivia na mesma rua que o ex-presidente da República António de Spínola. E, como se sabe, a malta que foi presidente tem direito a viatura e pinguim condutor todos os dias, até ao pijaminha de madeira. Os ex-presidentes e julgo que o Cavaco também, quando largar o poleiro. Bom, lembro-me de olhar para o velhote e achar que havia muito de David nele... Em vez de uma raposa vermelha era um carro preto e ele não o chamava com assobios mas fora isso era igual. Às vezes há coisas que aproximam os desenhos animados da vida real e só topamos quando somos putos. Enfim...<br />
<br />
Os inimigos, também os havia, eram uns deprimentes irmãos mostrengos com narizes de bêbado a quem chamavam trolls, mas nunca constituíam grande ameaça. Faziam patifarias de modo cristão e sempre dentro de certos e determinados limites, porque eram também eles bastante estúpidos. Aliás, só assim se justificava a vida tranquila de David que, como já foi provado ao longo deste texto, não era propriamente a última Coca-Cola do deserto...<br />
<br />
Mas voltando ao início, a minha adoração pelo boneco era imensa.<br />
E aos trinta anos, não nego que ver o genérico no youtube faz com que haja uma lagriminha a querer saltar. Isto embora também tenha de recordar com bastante tristeza o momento em que nos separámos definitivamente e que envolveu um berreiro tal que os vizinhos provavelmente pensaram que me estavam a cortar um braço com uma colher de chá.<br />
<br />
É que os senhores criadores da série "David, o gnomo", com certeza esgotados por todo o fervilhar criativo que os episódios exigiram e não sabendo como colocar termo à questão, tiveram a ideia brilhante de o fazer traumatizando milhares (quiçá milhões) de malta infantil.<br />
<br />
Para quem não sabe, no final de "David, o gnomo", David e Lisa MORREM transformando-se ambos num decrépito e macabro par de árvores.<br />
<br />
Sim, tal qual.<br />
<br />
...<br />
<br />
Ah mas não antes de uma dolorosa despedida lavada em lágrimas entre o gnomo e a raposa motorista (o que talvez tenha indicado que ambos tinham uma relação extra-profissional mas não vale a pena agora desenvolver o assunto).<br />
<br />
Sim, MATARAM David e a mula da mulher só para poderem dar a série por finalizada.<br />
Hoje, a transformação de personagens em árvores afigura-se-me como "menos má" mas na altura foi o equivalente a terem sido queimados vivos, decapitados e as cabeças espetadas em estacas à entrada da floresta. Podiam ter feito uma montagem com os trolls a despachá-los a tiro como no fim do Padrinho I, com os violinos de fundo, que aos meus olhos não teria sido menos chocante.<br />
<br />
Enfim, a vida é curiosa e à medida que avança as memórias ganham outros valores e significados.<br />
Julgo que é essa a conclusão que um tipo tira daqui.<br />
<br />
Seja como for, e com toda a lamechice que isso implica...<br />
<br />
Tenho saudades tuas, David.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-18374625300836006702013-02-13T10:15:00.001-08:002013-02-13T10:30:25.311-08:00O xôr Bento da contabilidadeEntão mas... o Papa demite-se?!<br />
<br />
...<br />
<br />
Com o desemprego todo que anda p'raí, ele arreda um trabalho bom como aquele p'rá borda do prato?!<br />
<br />
... <br />
<br />
Parece-me uma decisão um tudo-nada irreflectida, devo confessar. Provavelmente foi tomada a quente e no calor do momento, mas já se sabe como são estes octogenários sempre com o sangue a fervilhar na guelra... Às vezes ganhavam mais se pusessem logo um comprimido debaixo da língua e se se deixassem ficar a reflectir com a nuca inclinada para trás e a boca aberta, esparramados no sofá. Mas enfim, é só uma sugestão.<br />
<br />
Demite-se porquê?! Vamos lá a saber...<br />
<br />
Está aborrecido porque já não tem mais progressão na carreira?! É que se for isso até compreendo porque depois de se ser representante de Deus na Terra, convenhamos, as coisas tornam-se um bocado maçudas. Deixamos de ler os classificados nos jornais, de ir a sites de emprego, de dar a dica aos amigos que estão noutros sítios melhores... Um tipo é Deus! Não há como bater isso.<br />
<br />
Mas ainda assim, nos tempos que correm, acho um bocado cagarola abdicar por falta de desafio. Prefiro mesmo acreditar que a culpa é daquele maldito chapéu bicudo que deve dar cabo das costas.<br />
<br />
Não me interpretem mal, eu adoraria usar um chapéu daqueles e dificilmente largaria um emprego em que o pudesse usar em situações que não incluissem piñatas, confettis ou línguas da sogra mas a sociedade não me permite essas liberdades. Permite a ele porque, lá está, até arrumar o cacifo é Deus.<br />
<br />
A única maneira de me deixarem usar um chapéu bicudo numa base diária era se a minha cabeça fosse, ela própria, bicuda. Estive a ver uns documentários no National Geographic e parece-me que isso só é possível se se enfaixar a cabeça dos putos desde o berço com ligaduras apertadas. Portanto, todo um meritório e dedicado cuidado diário que os meus pais "decidiram" não ter. E agora eu que me governe com esta cabeça da treta, que não ostenta umas missangas douradas, uns berloques de veludo grená, uns bordados rococó... nada de nada. Uma pobreza franciscana é o que isto é ao nível craniano!<br />
<br />
Mas enfim, mesmo que ele esteja com a cervical toda esfrangalhada continuo a achar estranho ter mandado o lugar assim às urtigas... Também me pus a pensar que talvez a culpa tenha sido do mau feitio do patrão. Sempre com ares de "maior" porque... é efectivamente "o maior". Quando assim é, sabemos bem que pode ser um pesadelo ser o secretário, por muitos chapéus bicudos que se possa usar. Deus não aceitou bem a decisão do homem, isso é certo. Mas se o azedume do todo-poderoso se reduz a um raiozinho a cair no pára-raios da Basílica de São Pedro então é aproveitar porque parece que, apesar de tudo, a idade o amansou um bocadinho. Tempos houveram em que lançava pragas, aniquilava civilizações inteiras, exigia sacrifícios... Agora limita-se a cumprir a ciência e a dar razão ao Ben Franklin. Depois não venham dizer que a religião é dogmática e não evolui.<br />
<br />
De qualquer maneira, se era para abdicar julgo que Ratzinger nem sequer devia ter pegado nesta empreitada. Já sei que a malta esteve lá reunida, que se gera sempre aquele ambiente de camaradagem, contam-se umas anedotas, brinde p'raqui, brinde p'rali, mas na altura em que estivessem p'ra lançar o fumo branco bastava agradecer e dizer para passar ao próximo porque não se tinha vida p'raquilo. Mas entusiasmou-se e se calhar agora vai ver-se grego se quiser arranjar outra coisa.<br />
<br />
É que ser Papa é daqueles papéis que marca uma vida. É como o Radcliffe... O puto até pode ser bom actor e tudo mais mas o pessoal olha para ele e vai ver sempre o Harry Potter! Não há como fugir. <br />
<br />
Enfim, mas apesar de ter ficado menos tempo no Vaticano do que o Pedro Barbosa no Sporting (que entrou lá ainda com borbulhas e saiu marreco e já sem cabelo), considero que o pontificado de Bento XVI teve bons momentos que vale a pena recordar num daqueles vídeos que faziam quando alguém era expulso da casa do Big Brother. Talvez com uma música do ceguinho da ópera para puxar a lagriminha... Isto caso queiram dar um pouco mais de dramatismo à coisa, claro.<br />
<br />
Agora quem o vai substituir ainda não se sabe ao certo.<br />
Ouvi dizer que toda uma legião de eternos suplentes como o Zé Figueiras da SIC ou o Kardec do Benfica enviaram candidaturas mas foram obviamente recusadas porque não preenchiam os requisitos. Um homem para ser Papa tem de ter as costas fortes (por causa dos tais chapéus bicudos) e também ajuda já ser cardeal e assim... Depois basta saber ler e não ter medo de andar numa espécie de carrinho de golfe. Acaba por não ser um ofício assim tão complicado.<br />
<br />
Pessoalmente tenho pena que não se aposte mais na prata da casa e não se promova um estagiário que lá ande, por exemplo, mas admito que pouco percebo de Vaticanos. Eles não mandam em minha casa e eu não mando na deles, é um pacto de cavalheiros que temos vindo a respeitar com bastante sucesso.<br />
<br />
A Ratzinger desejo a melhor das sortes embora continue a achar que ele tem nome de vilão dos bonecos animados. Eu não o contrataria para qualquer posição de atendimento ao público precisamente por isso. Se fosse a ele mantinha o Bento mas largava o XVI porque há-de haver sempre o engraçadinho que vai ignorar a numeração romana e ler as consoantes. Mais vale jogar pelo seguro e passava a ser xôr Bento da contabilidade.<br />
<br />
Pronto.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-23852953014678369642013-01-24T07:08:00.001-08:002013-01-24T07:08:49.014-08:00Esse maricas do Armstrong...Olhem, antes de mais e não tendo nada a ver com o conteúdo propriamente dito deste post, quero aqui deixar novamente o apelo de se ACABAR DE VEZ COM A MERDA DOS PANDAS!!!<br />
<br />
É que é uma situação que se tem vindo a arrastar ao longo de décadas e não há ninguém que se chegue à frente e resolva o assunto! Ainda esta semana tivemos o ministro da saúde do Japão a manifestar o desejo do falecimento rápido de milhões de idosos e nem estes bons exemplos de pragmatismo vindos de um país vizinho conseguem sensibilizar os chineses para aquilo que precisa de ser feito!!!<br />
<br />
PORRA, ACABE-SE COM OS PANDAS PÁ!!! <br />
<br />
O que é que é um panda senão um adolescente idiota e trombudo que passa a vida fechado no quarto a espremer as borbulhas e a recitar poesia barata?! Raisparta que o urso é emo e é estúpido, catano!<br />
<br />
Primeiro: não se sabe vestir! Os meus pais tinham uma mobília de quarto preta e branca nos anos 80 mas isso é coisa que ficou lá p'ra trás assim como aqueles brincos de plástico colorido que saiam nas batatas. Segundo: é esquisito e fino, o estupor! Arroz e feijão que há às pazadas e que toda a gente gosta e come, não toca nem obrigado. Só lá vai com caninhas de bambú tenrinhas e às paletes delas que a real peidola do raio do urso não se sustenta com pouco. Como se isto tudo não bastasse, chineses enfiem por favor nas vossas cabeças:<br />
<br />
O BICHO NÃO QUER REPRODUZIR-SE!!!<br />
<br />
É que eles já deixaram isso muito claro! Nem uns dos outros gostam!!!<br />
Excusam de lhes mostrar filmes pornográficos com bichezas (e acreditem que mostram porque eu li a notícia), de lhes polvilhar o bambú com gindungo (literalmente, não inventem vocês também) ou de lhes injectar hormonas... <br />
<br />
O URSO NÃO QUER, ARRUMA-SE A LOJA E DÁ-SE LUGAR A OUTRO QUE ISTO É MESMO ASSIM!<br />
<br />
EHPÁ QUE PESADELO!!!<br />
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Bom...<br />
Peço desculpa pelo excesso mas antes de qualquer coisa tinha mesmo de tirar este peso dos ombros. Desconfio que a origem do meu ódio esteja num boneco de um panda que eu tinha quando era pequeno, um daqueles de borracha que guincham quando lhes apertamos o bandulho. A brincar a brincar, ainda ouço aquele silvo aflitivo e aterrador quando estou para adormecer ou quando fecho os olhos em becos escuros, mas enquanto me trato e não me trato, vou desabafando para aqui.<br />
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Já agora, não sei bem porque é que ando p'raí a fechar os olhos em becos escuros mas enfim... isso será com certeza material para outra conversa.<br />
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Ora bem, grande brincalhão aquele Armstrong hem?<br />
Eu sempre disse que ciclismo era estupidez mas nunca ninguém me deu ouvidos.<br />
Os meus avós dizem que gostam de ver a Volta a Portugal por causa das paisagens mas o certo é que não poucas vezes as paisagens que acabam por ver estão no interior do subsconsciente, com as cabeças reclinadas para trás e a boca aberta, diante da TV.<br />
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O ciclismo é uma seca mas é só para quem assiste. Acredito que aqueles que estão a pedalar têm o coração ao ritmo de uma gazela a bombar numa festa de transe, tal é a catrefada de drogaria que levam no bucho.<br />
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Que muitos dos atletas usam substâncias ilegais já todos sabíamos e contávamos com isso, o que não é nada comum é vir o tipo que era considerado o rei deles todos assumir descaradamente a moscambilha num programa como o da Oprah. Se era para confessar macacadas ele que escolhesse o Goucha que menos gente vê e ninguém leva a sério. Mas não... O homem quis protagonismo até ao final.<br />
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Ao que parece, com testículo ou sem testículo, aquilo foi um ror de etapas e troféus ganhos à conta dos chiribitis. Comeu, bebeu, deu as suas cambalhotas ao nível da cama (que entretanto já não estamos a falar de pandas) e quando a coisa apertou de vez... apareceu e disse que era tudo mentira. Que não houve etapa em que não estivesse mais dopado do que o Jorge Palma em dia de concerto.<br />
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Pessoalmente, acho mal.<br />
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Quer dizer, não tenho nada contra o homem ter feito batota para baralhar a verdade desportiva, ter enganado milhões de adeptos, ter ofendido uma legião de admiradores, ter-se enchido à grande durante anos à conta de uma mentira.<br />
Se estivessemos a falar de futebol até poderia levar a peito mas ciclismo... Ehpá ele que faça o que quiser. O que me transtorna não é nada disso.<br />
O que me transtorna é terem dado tanta importância a um intrujão destes e não darem reconhecimento nenhum a este campeão que se fartou de atingir feitos ao longo da vida e nem um aplauso, nem uma palavra, um ramo de flores, uma flute de champanhe, nada...<br />
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E quando digo campeão, estou a falar de mim, notem. <br />
Nunca pensei dizer isto mas se formos a ver bem, eu, que sou eu, acabo por ser tão campeão quanto o Armstrong.<br />
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...<br />
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Pronto, adiante...<br />
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Tudo o que fiz na minha vida ao nível do extraordinário teve de reconhecimento aquilo que teve de droga: zero.<br />
Ok, nunca venci uma Volta a França, dou-vos isso. Mas já fui a Paris duas vezes de avião e parece que não conta p'ra nada. O que é que vale mais? É o Armstrong a pedalar cá em baixo todo janado ou sou eu lá em cima recostado como um senhor, a deslocar-me aos 900 Km/h de cada vez?! Pois.<br />
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Bom, passando a factos concretos dou o exemplo de um feito atingido por mim ainda em tenra idade e que foi ignorado pelo grande público. Portanto, uma coisa pela qual nunca recebi crédito...<br />
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<b>Uma vez comi seis sandes de marmelada e queijo num só lanche.</b><br />
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...<br />
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<b>SEIS!</b><br />
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E se foram no mesmo lanche estamos portanto a falar de cerca de uma hora. <br />
Droga - nada.<br />
Marmelada e queijo - o suficiente para me fazer tombar com um enfarte do miocárdio logo aos dez anos de existência.<br />
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A isto, meus amigos, chama-se domínio das paredes estomacais e dos movimentos basculantes da traqueia que à terceira sandes já queria espichar tudo p'ra fora a ver se me salvava a vida.<br />
Enquanto isto acontecia, eu, pensando nas novas gerações e em todos aqueles para quem podia tornar-me um exemplo, mandei a traqueia à merda e empurrei-lhe mais três paposeco a murro, para atingir o objectivo.<br />
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Foi uma vitória silenciosa dado que só foi presenciada por duas pessoas.<br />
E uma delas tinha os dedos no telefone, na iminência de ter de ligar para o 112. Mas eu era uma criança idealista e não conhecia a derrota, o desânimo e a noção de ridículo.<br />
<br />Comi as seis sandes bem apetrechadas de marmelada e queijo e passado duas horas sentei-me p'ra jantar como se nada fosse. Isto sem transfusões de sangue, sem injecções regulares nem demais substâncias suspeitas... Até a marmelada era caseira. Por isso, se vê...<br />
<br />
A mim ninguém me chama para ir à Oprah falar desta experiência e cativar novos valores do enfardanço. Quem papa placentas, prega a deuses espaciais e salta nos sofás feito tantam, tem livre trânsito. O Tom Cruise, tudo bem. Agora, malta de verdadeiro valor já não é com eles.<br />
<br />
Eu até aposto que ganhava a Volta à França só com uma dieta à base de sandes de marmelada e queijo. Cruzava a meta vinte anos depois, encharcado no próprio vómito e com a pança a rojar pelo alcatrão mas cruzava.<br />
Não era como esse maricas do Armstrong...<br />
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<br />André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-29072104505213582012-12-21T10:00:00.000-08:002012-12-21T10:00:08.459-08:00CAGUEI P'RÓ FIM DO MUNDO!Isto, tal qual.<br />
E nem vou alongar-me muito sobre o assunto porque há milhões de espertinhos que estão a fazê-lo por mim neste preciso momento. O verdadeiro fim do mundo é haver tantas piadas idiotas sobre o fim do mundo, quando bastava que soasse um trovão de repente para que todos os comediantes de ocasião se desfizessem em diarreia pelas pernas abaixo. Aos esguichos como a erupção do Vesúvio!<br />
<br />
Pá, se acabar acabou!<br />
A pergunta que temos de colocar a nós próprios é se um mundo que cuspiu cá para fora Big Show SIC's, Casas dos Segredos e Manhãs da Júlia merece algum tipo de pesar ou de consideração. A verdade é que se os Maias anunciaram o juízo final para agora e não olharam para o lado a tempo de topar os espanhóis que se preparavam para os sachar à marretada, então há algo de muito mal contado aqui. Seriam videntes míopes e só conseguiam prever o futuro ao longe? Ou uma civilização que se entretinha a decapitar atletas que não enfiavam bolas em aros de pedra com a ajuda do cotovelo tinha de facto um parafuso a menos? Enfim, muitas questões, muitas piadinhas, mas nenhuma resposta do país por excelência da marijuana.<br />
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Assim sendo, e de volta às questões fulcrais da actualidade, hoje de manhã quase que desejei que o mundo acabasse realmente por uma ordem de razões. E, curiosamente, todas elas relacionadas com a minha ida ao ginásio.<br />
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Ora, o espaço de treino que eu agora frequento tem uma porta automática que se abre através da digitação de um código pessoal. Esse número é-nos fornecido através de um registo online e do preenchimento de uma ficha com os nossos dados e a nossa foto. Eu, por alguma razão idiota certamente associada às várias quedas de cornamenta ao chão na infância e ao uso excessivo de chinelos de dedo, decidi colocar não a foto da minha pessoa mas sim uma outra de Arnold Schwarzenegger nos tempos do bodybuilding.<br />
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...<br />
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Apenas porque sou estúpido. Não há mais nenhuma razão que o fundamente.<br />
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Isto até não seria grave se toda a santa vez que eu digitasse o código para entrar, a foto não aparecesse em formato GIGANTE num ecrã por cima da porta.<br />
Agora, podem perguntar-me porque é que eu, tendo uma réstia de dignidade e noção do ridículo, não alterei a imagem no site e fiquei descansadinho... Vá lá, perguntem...<br />
Epá, porque não deu.<br />
Eu tentei, mas não deu.<br />
Fiz upload de várias fotos, várias vezes diferentes e com diversos browsers, mas à entrada quem apareceu desde o dia 1 foi sempre o bom e velho Arnold a alancar com um haltere de cento e vinte quilos e a bufar estilo boi-cavalo.<br />
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Com o passar do tempo, decidi aceitar.<br />
Normalmente, quando a vida me dá limões eu pergunto "P'ra que é que eu quero esta merda?!" mas desta vez chupei o raio dos citrinos. Muito, MUITO, a contragosto.<br />
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Passei a entrar sempre à socapa, esquivo como o Vale e Azevedo num dia de renda, para que ninguém percebesse o pateta que efectivamente sou. E sempre tive sucesso...<br />
Até este malfadado dia 21...<br />
<br />O segurança que costuma estar junto às salas de treino a topar o rabo das gajas (afinal de contas é para isso que lhe pagam), hoje, talvez por ser o fim do mundo e estar demasiado deprimido para apreciar bom nalguedo, preferiu estar junto às portas num local privilegiado face ao ecrã. Avistando-o antecipadamente e sabendo que me dirigia para a minha perdição, agi com a máxima naturalidade que o meu tónus muscular permitiu, digitei o código e esperei que o Arnold surgisse e pusesse a nu todo o meu sentido de humor primário e demente. Era como uma prova de fé e confiança que Deus colocara diante de mim. Embora, por esta altura eu já devesse saber que Deus só me quer como palhaço. Atirar-me-ia de bom grado meia dúzia de tartes de natas à cara todos os dias, se isso não fosse tão show off. <br />
<br />
Bom, talvez por perceber que não tinha escapatória possível, resolvi quebrar o gelo e olhar o segurança nos olhos enquanto sorria nervosamente.<br />
Cheguei mesmo a soltar uma gargalhada surda que se materializou em som sob a bizarra forma de "GRGL..." Uma interjeição imperceptível que acabou por ilustrar o desconforto do momento.<br />
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GRGL..<br />
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...<br />
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O segurança topou o Arnold no monitor.<br />
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GRGL...<br />
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...<br />
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Devolveu-me o olhar.<br />
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<br />GRGL...<br />
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E NÃO ESBOÇOU QUALQUER EXPRESSÃO NAQUELA P**A DAQUELA CARA!<br />
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...<br />
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Por mim o mundo podia muito bem acabar ali.<br />
Enquanto eu gorgolejava ridiculamente diante da porta automática podia sem problemas apanhar com um meterorito na testa ou com um tsunami pelas costas abaixo. Detestaria saber que a minha última palavra se reduzira ao som "GRGL" mas, que se lixe, também não ficaria cá ninguém para se lembrar dela e ceder à tentação de a enfiar num livro reles de citações ou de a escrever na minha lápide.<br />
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AQUI JAZ SAGUIM<br />
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1982 - 2012<br />
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"GRGL"<br />
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Enfim, merda p'ra isto tudo.<br />
Segui para os balneários com a moral a arrastar pelo chão e nenhuma vontade de ir p'rá passadeira.<br />
Entrei no recinto e quando comecei a tirar as coisas do saco apercebi-me que tinha voltado a esquecer-me de uma muda de roupa interior para vestir depois do banho.<br />
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Cansaço...<br />
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Se fosse a primeira vez até se percebia.<br />
Mas por esta altura já deve ser a quarta.<br />
E isso é estúpido.<br />
<br />
Não que seja horrível de todo adoptar o estilo freestyle. Mas há uma lista exaustiva de coisas que ainda assim prefiro fazer e que incluem espetar agulhas nos olhos ou comer vidro... Vamos ser francos: é desagradável!<br />
Eu já guardo um par de meias extra no meu local de trabalho, a contar com estes meus lapsos cerebrais. Só lamento não ter tido a mesma ideia para as chamadas boxers, pois também me fazem muita falta. <br />
<br />
Enfim, talvez imbuído pela humilhação da entrada ou pelo desalento de ter de passar o dia "à larga", vi-me absolutamente desesperado por uma outra situação que tenho guardado em silêncio até ao dia de hoje e que não dá mais para ocultar.<br />
<br />
Estou muito satisfeito com aquele ginásio, não digo que não (e quem me conhece e quem leu posts anteriores sabe que isso não é muito fácil de conseguir). Porém...<br />
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Aquele espaço...<br />
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Possui...<br />
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Sem sombra de dúvida...<br />
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A PIOR SELECÇÃO MUSICAL DA HISTÓRIA DOS GINÁSIOS!<br />
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É que é uma xinfrineira infernal de batuques, guinchos e auto-tunes capazes de sorver o QI de um indivíduo décima a décima (pelo menos a avaliar por quem por lá anda e parece apreciar o som). As mais tinhosas rameiras da indústria musical em todo o seu esplendor, invadindo os meus tímpanos sem dó nem piedade todas as manhãs que vou treinar. Tenebroso!<br />
Normalmente, encaixo o suplício com coragem e paciência mas hoje, quebradiço emocionalmente como estava, fiquei uma vez mais a desejar que o tal planeta Nibiru (ou lá como se chama aquela merda) se viesse espetar naquele subwoofer como um campeão. <br />
<br />
Tão horrível, tão insuportável, que preferia ouvir os balidos agoniantes de um CABRITO VIVO A GUISAR! E eu sou um tipo que gosta de animais.<br />
<br />
Enfim, soltei a minha lágrima.<br />
Treinei como um senhor.<br />
Abandonei o ginásio sem encarar o segurança.<br />
E passei o resto do dia com comichões na virilha.<br />
<br />
'Tou-me a cagar p'ró fim do mundo dos índios porque eles nunca souberam o que era sofrimento a sério. Não tivesse eu de passar esporadicamente por experiências destas e também me armava em exótico a talhar pedregulhos p'ra deixar em broa os papalvos do ano 3000.<br />
<br />
Amanhã é outro dia...<br />
E é isso que me mete medo!André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-63645576357274086902012-12-03T09:56:00.000-08:002012-12-03T09:56:12.163-08:00Âncora anti-depressãoTirando o Benfica, não sou conhecido por fazer parte de muitos clubes...<br />
E mesmo nesse estou apenas na condição de adepto, que eu tenho coisas mais importantes em que gastar o dinheiro do que nos ordenados milionários de malta sul americana. Quer dizer, não precisa de ser sul americana. Coisa boa do Benfica é que há gente de todo o lado... Menos de cá.<br />
<br />
O que, a avaliar pelos últimos anos, nem é assim tão mau.<br />
<br />
Não tenho nada contra eles, atenção. Vibro com os seus golos, com as fintas, com cada jogada... Admito que não há ninguém que represente melhor o Benfica e Portugal do que os argentinos, mas a verdade é que tenho uma casa para pagar. E se falhar um mês duvido que o Sálvio dê um saltinho ao Totta para interceder a meu favor. Portanto, deixo-me estar sem quotas nem lugares cativos.<br />
<br />
Hoje em dia, tenho GRANDES restrições em relação aos clubes em que me inscrevo. Principalmente, porque não tenho dinheiro p'ra abandalhar.<br />
Quando era miúdo, o importante era receber correspondência e acumular cartões de sócio na carteira. O que para alguns não era senão lixo, para mim era símbolo de status e aquilo que me afastava da mediocridade de não pertencer a nada. Graças a este frenesim todo, ao longo dos tempos, associei-me a grupos tão determinantes na história do mundo e do preenchimento inútil de papel como o Super Clube dos Ases (já não me lembro bem mas julgo que tinha a ver com cereais), o Clube dos Amigos do Basquetebol (desporto ao qual nunca liguei pevas) ou o Clube dos Amigos da Raça Bulldog (sim, eles existem)... Ainda tenho os cartõezinhos todos guardados e talvez escreva sobre isto um dia (porque há mais... muito mais), mas de momento não é sobre este assunto que me apetece reflectir.<br />
<br />
Recentemente entrei para um novo clube, muito a contragosto diga-se. O clube dos 30.<br />
<br />
E antes de mais, já sei que o cliché agora é dizer que os 30 são os novos 20 mas esta máxima levanta-me questões. Se estamos todos a levar com talhadas de 10 anos em cima então a verdade é que os 20 são os novos 10 e o assunto "pedofilia" assume uma dimensão completamente nova. A maioridade deverá então passar para os 28 e quem tem menos de 10 anos, aos olhos da modernidade, não existe. Tudo isto é bastante confuso (à luz da filosofia e da própria estupidez), provoca-me dor de cabeça e acentua-me o reumatismo... O que não me surpreende porque sou agora oficialmente "uma pessoa de idade".<br />
<br />
A tentar lidar com a entrada neste clube a que não fazia questão de pertencer, tentei identificar âncoras que me permitissem assumir a mudança de uma forma menos brusca. Sei perfeitamente que em pouco menos de cinco meses passarei a fazer-me acompanhar por aquelas caixinhas de comprimidos que têm compartimentos para cada dia da semana, mas ainda assim algo me diz que eu não estou a ficar velho... Eu já sou velho há muito tempo.<br />
<br />
A condução, por exemplo. É essa a minha âncora principal.<br />
Eu sempre conduzi como um velhote e não é agora aos 30 que vou passar a fazê-lo de maneira diferente.<br />
<br />
Os velhos, como é sabido, conduzem mal. E não olham para trás quando fazem marcha atrás (o que é estranho porque o próprio nome dá uma dica do que deveriam fazer). Isto pode ser confundido com desnorte ou senilidade mas a verdade é que é uma escolha perfeitamente consciente. Eles não olham porque acham que já olharam muito ao longo dos anos, conquistaram o direito de não olhar. Os outros, que são novos, que se cheguem à frente e olhem agora para não acabarem com um pára-choques encalacrado na dentição. Depois, quando forem velhos podem fazer o mesmo que ninguém os poderá condenar. O raciocínio é mais ou menos este.<br />
<br />
Se um velho quer andar numa autoestrada em contramão está, pensam eles, no seu pleno direito.<br />
Se quiser passar a ferro os dedos dos pés de uma mulher de meia idade que atravessa a passadeira, é porque ainda pode fazê-lo. E, por um lado, ainda bem. A sociedade não quer que sejam activos? <br />
Entre as várias actividades, conta-se o bingo, a bisca no jardim, a alimentação de pombaria e o desrespeito total e absoluto pelas regras de trânsito. A escolha já só depende do bom senso de cada um.<br />
<br />
A sociedade colhe aquilo que planta.<br />
E como, bem vistas as coisas, qualquer pena para um velho pode vir a ser prisão perpétua... A maior parte das vezes, dá-se um desconto e esquece-se o assunto.<br />
<br />
Uma vez vi eu, ninguém me contou...<br />
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Estava à porta de casa de manhãzinha, à espera de uma boleia.<br />
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Sai um velhote de muletas do prédio ao lado.<br />
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...<br />
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De muletas, muito vagaroso.<br />
<br />
Em direcção a um carro que estava estacionado completamente em cima do passeio.<br />
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Sem vergonha nenhuma, o velho.<br />
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À patrão.<br />
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...<br />
<br />
Vagaroso.<br />
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Com as muletas.<br />
<br />
Em direcção ao carro.<br />
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...<br />
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...<br />
<br />
... <br />
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Entrou finalmente na viatura.<br />
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Sempre vagaroso.<br />
<br />
Já com as muletas pousadas no lugar do passageiro.<br />
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Pôs o carro a funcionar.<br />
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Deixou o motor aquecer.<br />
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...<br />
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Meteu a marcha atrás e...<br />
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...<br />
<br />
... <br />
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PAAAAAAMMMMMM!!!<br />
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...<br />
<br />
REBENTOU A TRASEIRA NUM POSTE DE ILUMINAÇÃO.<br />
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...<br />
<br />
Isto comigo a ver, incrédulo e de mãos na cabeça, a poucos metros do sucedido.<br />
<br />...<br />
<br />
O poste de iluminação a abanar.<br />
<br />
A passarada a voar descontrolada em múltiplas direcções.<br />
<br />
Algumas pessoas a assomarem às janelas, assustadas com o estrondo.<br />
<br />
<br />
Mas agora, digam-me vocês...<br />
O velho foi avaliar os estragos para accionar o seguro?<br />
O velho foi ver se danificou permanentemente o poste (coisa que fez com toda a certeza) para notificar a Junta de Freguesia?<br />
O velho maldisse a sua distracção e prometeu não voltar a agir assim?<br />
<br />
Nada disso, meteu a primeira e, sem virar a cabeça, saiu dali mais depressa do que leva a dizer "destruição da via pública".<br />
<br />
<br />
Ora, entre mim e este indivíduo há, agora e sempre, muito poucas diferenças.<br />
Isto ao volante, claro. De resto, penso que a superioridade ainda está do meu lado, seja numa competição de braço de ferro ou numa feroz disputa de sapateado (não que eu saiba fazê-lo, ou outra qualquer dança seja ela qual for, mas consigo aguentar-me em pé e ele sempre precisa das muletas), só para dar dois exemplos.<br />
<br />
Nunca tive muito jeito para a condução nem nunca tive especial apreço por automóveis.<br />
Bem sei que o másculo e o viril seria o contrário mas tenho dificuldade em entender os tipos que tiram prazer em encerar o carro, em tratar-lhe dos estofos ou em mexer-lhes nas tubagens e engenhos. No dia em que eu passasse a fazer isto julgo que ficaria com pena dos outros electrodomésticos que possuo... E em pouco tempo estaria a puxar o brilho à máquina de secar, a mudar os plásticos ao exaustor ou a rebaixar a torradeira. Para mim, todas são máquinas e todas são iguais aos olhos de Deus. Amén.<br />
<br />
Conduzo diariamente por uma questão de necessidade e, apesar de tudo, estou bem melhor hoje de que há alguns anos atrás. Mas, ainda assim, ao nível do pessoal idoso.<br />
<br />
As coisas começaram tremidas ainda aos 17, durante as aulas de condução.<br />
Praticamente todas as recordações que tenho são em Chelas com o instrutor a berrar-me na cara. Tanto que me chego a questionar se realmente eram aulas de condução ou se não terei estado umas quantas vezes envolvido em sequestros e assaltos à mão armada...<br />
<br />
No exame propriamente dito, vi o examinador calcar o travão com toda a força que a sua santa mãezinha lhe dera um dia, segundos antes de eu empurrar o automóvel para debaixo de um autocarro.<br />
<br />
Ele, eu e as pessoas atrás, brancos como o cal.<br />
O autocarro a passar.<br />
O condutor do mesmo a olhar para nós, também ele branco como o cal.<br />
O examinador a limpar o suor da testa com um lenço de pano e a dizer, ainda ofegante:<br />
<br />
- Encoste aí o carro e passe p'ra trás antes que a gente morra p'raqui todos...<br />
<br />
<br />Portanto, chumbei no primeiro exame, não é?<br />
<br />
Mas passei no segundo e, desde aí, tenho vindo a praticar a má condução um pouco por todo o país. Uma âncora que me permite aceitar isto dos 30 de uma forma muito mais leve e natural...<br />
É comum vermos velhotes dizerem "A malta nova não quer pegar nisto" sobre esta ou aquela tradição. Mas neste caso concreto, faço questão de fazer-lhes justiça e de imitá-los no que fazem pior, desde tenra idade.<br />
<br />
Posso já não pertencer ao clube da "malta nova".<br />
Mas ainda bem, porque um clube onde se ouve LMFAO ou o "Gangnam Style" é um clube parvo.<br />
<br />E os tempos do Super Clube dos Ases já lá vão...André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-2620370473109670172012-11-09T04:09:00.000-08:002012-11-09T04:09:23.509-08:00Triste, triste, tristeOk, houve realmente uma coisa que não mencionei no meu último post, outra das razões pela qual sou capaz de estar mais magro... E começo assim o texto como se não tivesse havido interrupção nenhuma em relação ao anterior, como se acreditasse que todos tivessem estado duas ou três semanas em suspenso sem tirar os olhos do ecrã. A isto, meus amigos, chama-se confiança. Ou então é a estupidez do costume. Há-de ser uma das duas.<br />
<br />
Ora bem, além de efectivamente não andar a comer "merda" (termo que usei para definir aquilo que não faz bem nenhum ao organismo e só serve para sossegar a gula) posso também adiantar que deixei de beber álcool.<br />
<br />
Isto lido assim parece que não tem impacto nenhum... Mas podem crer que me foi particularmente difícil escrever estas palavras. Até porque escrever num teclado enquanto se chora copiosamente, equilibrando meia dúzia de kleenexes nas mãos é coisa para profissionais.<br />
<br />
Deixei de beber álcool e isso é motivo de tristeza profunda para mim.<br />
Mais triste do que um órfão a tremer de frio.<br />
Mais triste do que um esquimó à paulada a uma foca bébé.<br />
Mais triste do que o sonho do Jorge Gabriel em treinar o Sporting.<br />
Mais triste do que Felix Baumgartner a atirar-se do espaço sem que ninguém o fosse tentar agarrar.<br />
<br />
Triste, triste, triste.<br />
<br />
E a razão que me levou a abandonar a pinga, para tornar tudo ainda mais revoltante, nem foi o raio da pança. Nem foi o peso. Foi porque o meu corpo insiste, desde os quatro anos, a sofrer de uma patologia típica "das gajas". Tenho enxaquecas crónicas desde tenra idade e percebi que bastam dois ou dezoito copos de vinho tinto para fazer disparar uma dor de cabeça mais depressa do que uma mulher da casa do Paco Bandeira.<br />
<br />
Mas a verdade é que eu nem sequer bebia muito.<br />
Nunca fui daqueles tipos que chegam a casa e vão preparar "um drink", vertendo generosas quantidades de whisky em copos largos (coisa muito vista em telenovelas, séries e filmes). Nunca percebi como é que aqueles indivíduos conseguiam depois ir jantar e estar com a família em condições... Se fosse eu a fazer isso, provavelmente não demoraria quinze minutos a ficar vermelhusco e a olhar fixamente para a minha mulher, encostado à ombreira da porta. Tenho a certeza de que em pouco tempo, ela passaria a dormir com um cutelo debaixo da almofada.<br />
<br />
Também é comum vermos na TV aqueles homens de negócios que antes de assinar um contrato, enquanto discutem os detalhes, atiram baldes de "scotch" para a goela e largam baforadas de charuto no ar. Para vossa informação, eu já experimentei fazer isto e não acabou nada bem. Acreditem que para que os documentos não acabem a boiar em vomitado e estes homens não passem o resto da tarde de bruços no tapete do escritório de um deles, é preciso um poder de encaixe daqueles valentes.<br />
<br />
A minha relação com o álcool nunca foi esta. Nem nada que se parecesse!<br />
Beber para mim, com o passar dos anos, tornou-se algo social para ser partilhado com amigos, entre histórias divertidas e gargalhadas soltas. Se há coisa que a História nos ensinou é que um bom vinho desperta os sentidos e alimenta o espírito, e eu sempre gostei muito de História.<br />
<br />
Assim como de vinho.<br />
<br />
Tempos houve em que até tentei fazer um workshop para perceber um bocado mais. Mas os tipos não me abriram a porta e acabei por ficar na mesma (a título de curiosidade, o relato ficou <a href="http://horadosaguim.blogspot.pt/2010/10/sobrio-mas-feliz.html">aqui</a> imortalizado).<br />
<br />
Mas pronto, afinal esta abstinência até resulta: nunca mais tive enxaquecas a sério. <br />
Isto é mais uma maneira grosseira e pouco criativa que o universo teve para me mostrar que não sou bem-vindo neste mundo cruel! Nada do que eu gosto pode ser feito. NADA!<br />
<br />
Neste momento, eu que era a alma de qualquer festa ou jantar, tenho o espírito e o sentido de humor de um tijolo acabado de cozer. Isto e o parecer que o meu guarda-fatos é a secção de toldos do Leroy Merlin, torna a minha vida muito mais complicada de momento.<br />
A total e completa ausência de álcool no meu organismo, aliada ao desaparecimento da sofreguidão, e porque não dizer ferocidade, no "ataque" à comida, fizeram com que já não constitua entretenimento para ninguém. Sou uma sombra daquilo que já fui... O álcool, é preciso dizê-lo, era o meu doping.<br />
<br />
A minha sorte é que isto não é como no ciclismo e, ao jeito do Lance Armstrong, ninguém vai manchar o meu currículo ou tornar-me <i>persona non grata</i> do mundo dos petiscos e dos chiribitis. O que passou passou e quem viveu ficou com boas memórias.<br />
<br />
Agora é começar do zero e reinventar-me, criar toda uma nova forma de estar, sem o inebriante efeito dos chamados "copos".<br />
<br />
...<br />
<br />
Tivesse eu lidado com isto mais cedo e o sacana do Baumgartner não tinha saltado sozinho.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-15862209624067693362012-10-18T10:50:00.000-07:002012-10-18T10:54:24.254-07:00De volta, mas pouco...Ora bem, para aqueles que fantasiam sobre o que estive a fazer no último mês e meio, apontar muito rapidamente cinco tópicos:<br />
<br />
<br />
- Fantasiar é p'ra meninas.<br />
<br />
- Fantasiar sobre mim, além de ser p'ra meninas, é perturbador.<br />
<br />
- Eu sei que disse que ia parar para fazer o livro.<br />
<br />
- Mas fazer o livro demora tempo e a vida continua.<br />
<br />
- Estou um bom bocado mais magro.<br />
<br />
<br />
Pronto, posto isto, obrigado e boa tarde.<br />
<br />
...<br />
<br />
Ok, vamos lá elaborar um bocadinho mais...<br />
Estou realmente a fazer o livro mas cheguei à conclusão que o saguim escreveu que se desunhou nos últimos anos. Portanto, há aqui trabalho para duas ou três oficinas de crianças vietnamitas durante meses e meses, para despachar no intervalo dos sapatos. E atenção que digo vietnamitas e não portuguesas porque as de cá nem emprego têm devido à falência das fábricas... Isto, como sabem, está mesmo muito mau.<br />
<br />
Assim, enquanto o bicho está no forno a apurar, decidi ir escrevendo mais qualquer coisa para não perder o pouco jeito que tenho. Senão quando voltar a dedicar-me à palhaçada sou capaz de estar ao nível do sentido de humor de António Sala na altura das "Anedotas sem malícia" (manual esse que ainda nos dias de hoje assombra os meus pesadelos mais sombrios).<br />
<br />
Depois do meu último post muita coisa se tem passado, o mundo e os seus tumultos ambientais e económicos não dá senão motivos de preocupação e debate, assunto não falta... Mas julgo que o mais importante acaba mesmo por ser eu estar mais magro. Significativamente mais magro.<br />
<br />
E se eu escrevia textos a ridicularizar a minha compleição de paquiderme, agora é justo que faça a mesma coisa mas ao contrário. É que isto de ser magro (ou mais magro, vá) não é tão bonito ou glamoroso como o pintam. Uma das coisas aborrecidas com que tive de me deparar, e ainda hoje me deparo, é a cara de espanto das pessoas que encontro e que já não me viam há algum tempo. No lugar de esbarrarem com o mamute a que estavam habituadas vêm uma versão subnutrida desse mesmo mamute, o que dá lugar sempre ao mesmo leque de reacções. É comum entrarem num estado de grande admiração e surpresa, exclamando "Estás tão diferente! Tão magro! O que se passou? O que fizeste?" Ao que eu respondo sempre: "Estou doente e custa-me falar sobre o assunto..."<br />
<br />
...<br />
<br />
Desta forma, evito a situação embaraçosa de ter de descrever "a minha fórmula de dieta".<br />
Afasto conversas indesejadas.<br />
E também as próprias pessoas que se arrastam de lágrimas nos olhos, a pedir a amigos comuns o número de telemóvel dos meus pais para saberem mais detalhes e como ajudar.<br />
Só isso me faz sorrir.<br />
<br />
Mas pronto, estou mais magro e neste momento não tenho calças que me sirvam.<br />
Dantes não tinha porque cheguei a um ponto em que dos dez pares que estavam no guarda-fatos só dois passavam com dificuldade a zona dos tornozelos.<br />
Agora não tenho porque dos dez pares que possuo só dois não me ficam a bailar na anca como se fosse uma bailarina exótica.<br />
Tenho de mandar apertar isto. E depois é bom que não volte ao mesmo porque não ganho p'rás costureiras.<br />
<br />
Mas para aqueles que querem emagrecer e não sabem como, vou fazer um pouco de serviço público neste blogue e dar uma receita infalível.<br />
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Vão lá buscar um bloco de notas e uma caneta que eu espero...<br />
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...<br />
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Vá, que vale a pena.<br />
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Não precisa de ser um bloco, basta um papel.<br />
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Uma folhinha que seja...<br />
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...<br />
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Já está?<br />
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Então cá vai...<br />
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...<br />
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Ehpá, se vocês soubessem como isto é grande... eheheh<br />
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Bom, concentração...<br />
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Cá vai...<br />
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Estão prontos?<br />
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Isto é uma receita infalível daquelas que alteram o curso da história...<br />
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Ora bem...<br />
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...<br />
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Para emagrecer basta...<br />
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FAZER EXERCÍCIO.<br />
NÃO COMER MERDA.<br />
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E é isto, basicamente.<br />
Acaba por não haver grande mistério.<br />
<br />
Se um tipo abdica das coisas que mais gosta (quem disser que é da família e dos amigos está a mentir porque no fundo todos sabemos que o que mais adoramos é cervejola, vinhaça, queijos e fritalhada até termos de amputar dedos por causa do ácido úrico), se é preciso abandonar tudo o que é bom... Efectivamente é! Porque a vida não presta. Só mesmo por isso.<br />
E como se virar a cara a tudo o que é belo e saboroso neste mundo não chegasse é preciso correr, sofrer, suar como um beduíno ao sol e dedicar largas horas à nobre arte do masoquismo.<br />
<br />
É triste mas é a mais pura verdade.<br />
<br />
No final de tudo, contas feitas, não vale assim tanto a pena.<br />
Ser magro é praticamente como ser gordo mas com menos risco de enfarte do miocárdio. O que até torna os dias mais emocionantes, diga-se.<br />
No entanto, já que aqui cheguei acho que vou cá ficar mais um bocadinho. A ver as vistas e a apreciar ter menos quinze quilos no bandulho porque a cada passo na rua é coisa para fazer a sua diferença.<br />
<br />
Bom, por esta altura o texto do saguim já se assemelha perigosamente a um artigo da revista Cosmopolitan... O melhor é dá-lo como terminado.<br />
<br />
Prometo continuar a trabalhar no livro que prometi.<br />
E pode ser que muitos de vocês ainda sejam vivos quando ele sair.<br />
<br />
Haja saudinha... EhehAndré Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-70494304660571244512012-08-09T06:46:00.005-07:002012-08-09T06:46:53.660-07:00Fechado para publicação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrt4IV8upLq-JikllC-ITJdQUS5g7YCMx-mkXvhciq_Gn4nG-AUnezweahh3Hb44nEjIqIsQk-6jxvXXvJHszF5wjNLoSKJnqf2C2gPkkhux_hyphenhyphens5GT6uQDH1TTK_H-htDJ8amC-aqT0Jy/s1600/closed.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrt4IV8upLq-JikllC-ITJdQUS5g7YCMx-mkXvhciq_Gn4nG-AUnezweahh3Hb44nEjIqIsQk-6jxvXXvJHszF5wjNLoSKJnqf2C2gPkkhux_hyphenhyphens5GT6uQDH1TTK_H-htDJ8amC-aqT0Jy/s320/closed.jpeg" width="320" /></a></div>
<br />
Então o que se passa é o seguinte: já faço isto há uma série de anos e, ao longo do tempo, julgo que fui melhorando, encontrado os meus temas e sobretudo o meu tom. Continuo a escrever uns textos melhores e outros piores, como em tudo na vida, mas a verdade é que o trabalho se tornou consistente e, quer se goste ou não, uma alternativa de leitura de humor na net.<br />
<br />
Criei a regra de só dizer a verdade (embora a mesma seja muitas vezes evidentemente exagerada) e é ela que me tem dado sempre assunto para escrever.<br />
<br />
Há uns meses comecei a sondar editoras porque achei que tinha chegado a altura de publicar um best of em livro. No entanto, recebi muito poucas respostas e nenhuma favorável.<br />
<br />
Assim sendo, e porque me recuso a recorrer a vanity presses (por causa de um assunto sobre o qual um dia ainda irei falar), decidi avançar para a autopublicação e começar a trabalhar no livro d'A Hora do Saguim.<br />
<br />
O blog vai estar parado algum tempo, durante o qual criarei material novo em exclusivo para o livro, mas irei postando as novidades.<br />
<br />
Penso que vai valer a pena. ;)André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-40093744968998121972012-07-16T17:04:00.002-07:002012-07-27T03:42:52.155-07:00Raisparta os putos!Malta nova.<br />
Não aprecio.<br />
<br />
E digo isto com plena e total consciência de que só tenho vinte e nove primaveras, atenção. O problema é que, ao mesmo tempo, sinto que já sou idoso há um ror de anos, como aqueles putos que mal nascem e já são sócios do Benfica. A verdade é que se tiver de escolher entre seniores e juniores normalmente não hesito: ponho um comprimido para a tensão debaixo da língua e visto a camisola da terceira idade mais depressa do que lhes leva a pegar no andarilho.<br />
<br />
Nota-se muito que estive no Optimus Alive? Pois estive.<br />
<br />
É épica e crónica a minha dificuldade em oferecer prendas à minha mulher. Nomeadamente ao nível da escolha. No passado escrevi sobre isso neste <a href="http://horadosaguim.blogspot.pt/2010/07/o-fim-esta-proximo.html">post</a> e lamento imenso dizer que, para não variar, TODAS as idiotices que lá referi são a mais pura verdade. É verdade também que com o tempo comecei a prestar mais atenção às pequenas dicas que ela me dá, aos mais singelos pormenores nas conversas que me podem dar ideias de coisas para lhe oferecer nos anos e noutras ocasiões especiais. No Natal passado foram os bilhetes para o Alive. Como ela estava sempre a dizer que nunca tinha ido e gostava muito de ir, aqui o super-alarve foi logo fazer despesa e comprar bilhetes de três dias. Mesmo à lambão, de peito feito. Sem a mínima noção do que estava a fazer...<br />
<br />
Com o passar dos meses, confesso que o cartaz não me seduziu por aí além. Mas, lá está, eu nesta história era apenas o acompanhante... O presente era dela e ela tinha melhor impressão do alinhamento do que eu.<br />
<br />
Quando a data de início começou a aproximar-se percebi que três dias seguidos, a uma média de oito horas por dia, quase sempre em pé e em contacto directo com multidões era coisa para cansar um bocadinho... É que, nos dias que correm, não sou aquilo a que se pode chamar um "animal da noite". Quer dizer, não nego que não hajam semelhanças evidentes entre mim e uma coruja... Principalmente, de manhã quando acordo. O que quero dizer é que já não sou um tipo que aguente muito na chamada "night", a beber shots como um desgraçado ou a curtir até de manhã no Lux. Quando muito posso ir para a cama com a revista Lux e estar ali a folheá-la uns quinze minutos até começar a fechar os olhos. Mas enfim, acho que já estou a ser deprimente que chegue.<br />
<br />
Portanto, sexta-feira passada lá estavamos nós a iniciar a odisseia.<br />
Ao olhar novamente para o cartaz reparei que grande parte das bandas eram inglesas. E escusado será dizer que fiquei logo mal disposto e com vontade de me ir embora...<br />
<br />
Numa altura em que o país está em crise, os nossos artistas estão praticamente ao abandono e existe uma necessidade evidente em realçar os valores nacionais e fomentar o orgulho lusitano, não haviam bandas americanas disponíveis?! Tivemos de importar tudo da Grã-Bretanha?! Acho mal.<br />
<br />
Mas, feliz ou infelizmente, não foi só a música que veio das terras de sua majestade. Já que estavam com a mão na massa aproveitaram e trouxeram também uma catrefada de bêbados que isto nunca é demais contar com malta de qualidade. E atenção que eu há uns tempos atrás também era bêbado, por isso sei do que falo. Quer dizer, não era bem bêbado, às vezes bebia uns copos. E invariavelmente ficava alcoolizado, como qualquer jovem a experimentar novas sensações pela segunda, terceira ou vigésima nona vez. Mas pagar umas boas dezenas de euros para ver os concertos de rojo e de nariz enfiado no próprio vómito parece-me demasiado idiota para ser verdade. Mas já voltamos aos amantes da pinga...<br />
<br />
No primeiro dia, para mim, não houve muito a assinalar. Reparei que aquilo estava à pinha com hipsters, o que dá sempre um interessante e patusco colorido a qualquer festival. Para citar uma conhecida marca de telecomunicações nacional: "há uma linha que separa" um hipster de um palhaço. E essa linha é, na maior parte das vezes, muito mas muito ténue. Basta colocar um bocado de pintura facial para se passar de um para outro (isto porque o nariz batatudo e vermelho uma boa parte deles já consegue depois de um ou dois martinis).<br />
<br />
De resto, foi tudo um pouco morninho.<br />
Houve coisas que gostei e outras que nem por isso, como em tudo na vida. O ponto mais baixo (porque tem sempre mais piada do que o ponto mais alto) foi mesmo o concerto abjecto de uma coisa que eu não entendo e que responde pelo nome impronunciável de LMFAO. Eu assisti a isto do princípio ao fim para tentar compreender se era eu que era burro ou se aquilo é mesmo ridículo. Admito que eu seja um bocadinho burro mas PORRA se aquilo é ridículo! Dá a ideia que as carrinhas com os adereços dos tipos foram roubadas e tiveram de ir comprar tudo à pressa ao chinês. Ele é calças coloridas, ele é bolas de praia, ele é bichos insufláveis, ele é um tipo deprimente com uma caixa na cabeça... Parece "Malucos do Riso" com anfetaminas e a malta adora. A malta nova, claro está.<br />
<br />
Ao que parece os LMFAO são dois mas só lá estava um. Não sei se o LM (talvez a sigla de Luís Miguel, não posso garantir) se o FAO (aqui perco-me completamente). Mas em vez de dois idiotas de cabeleira afro em palco estava apenas um idiota de cabeleira afro... em palco. O circo instalou-se do princípio ao fim e, à minha frente, um puto que me parecia o seleccionador Paulo Bento se o mesmo fosse anão e deficiente da cara abanava-se vigorosamente agitando a cabeça para trás e para a frente como se a sua vida dependesse disso. Quando não estava a fazer a sua dança do pica-pau, o imberbe sorvia cigarros uns atrás dos outros, com uma sofreguidão abestalhada. A rapariga que estava atrás dele e que já tinha idade para ter juízo, apesar de aparentemente estar a apreciar aquele espectáculo insano, estava muito irritada com a atitude imatura e bruta do rapaz. Isto enquanto os elementos da "banda", apenas com tangas coloridas a separá-los da nudez total, abanavam a zona pélvica com uma brutalidade estonteante. Enfim, foi com este tipo de incongruências na mente, e com as primeiras dores nos pés e nas pernas que fui de comboio para casa...<br />
<br />
Apenas para voltar no dia seguinte! Já menos fresco e enérgico do que no dia anterior.<br />
No Sábado, e como gosto muito dos The Cure (uma banda que, lá está, não é propriamente de "malta nova"), plantei-me às sete e meia da tarde defronte do palco principal e só saí de lá por volta das três da manhã. Portanto, acho que não preciso de referir que, ao longo das horas, experimentei um tipo de sofrimento primitivo e profundo como nunca antes. Uma espécie de morte lenta e dolorosa que parecia querer arrastar-se para a eternidade. Isto enquanto ia batendo palmas no final das músicas para agitar as artérias e evitar o ataque cardíaco que parecia iminente.<br />
Pontos negativos deste dia: lá está, o raio dos bêbados. Quando finalmente começou a banda que eu realmente queria ver, depois de ir furando aos poucos até à linha da frente, apareceu um que estava com ganas de beijar as pessoas à força. Pelo sim pelo não, cerrei logo o punho para lhe pregar um "xoxo" caso quisesse armar-se em esperto comigo. Felizmente não lhe deu para aí. Achou mais inteligente colocar-se à minha frente a atirar a cabeça em todas as direcções, na onda daqueles cãezinhos de cabeças baloiçantes que os bimbos têm nos carros mas caso o bicho estivesse no meio de um tufão. Comparado com aquilo a dança basculante do puto anão do dia anterior, era brincadeira de crianças. Eu a certa altura, e farto de me desviar das cabeçadas do bebedolas agarrei-o pelos ombros e gritei-lhe "TAKE IT EASY!" ao ouvido. Mas isso não impediu que o gajo continuasse a fazer merda e me impedisse de ver o concerto em condições.<br />
<br />
A dada altura apareceu outro ainda mais bêbado do que o primeiro.<br />
Mesmo quando eu achava que a situação não podia piorar.<br />
<br />
Ficaram amigos instantaneamente e começaram a abraçar-se e a trocar juras de amizade eterna. Estava a acontecer um espectáculo dentro do próprio espectáculo e não quisesse eu naquela altura que ambos morressem afogados em gin, ficaria muito contente. Entretanto o primeiro bêbado, como que por milagre, acalmou com a presença do segundo. Isto foram as boas notícias. Mas o segundo bêbado ganhou ainda mais vigor através do contacto com o primeiro. Isto foram as más.<br />
<br />
Tanto vigor que a dada altura tive de agarrá-lo pelos ombros e gritar-lhe "TAKE IT EASY!" ao ouvido. O tipo pediu-me desculpa e ofereceu-me um gole da garrafa dele. Eu pedi apenas que me deixasse ouvir a música em paz. Não contente com a minha recusa, o supremo embriagado ofereceu-se para me carregar em ombros. Queria que eu me sentasse nas suas costas para assistir ao espectáculo "no primeiro andar". Assim como quem oferece um cachimbo da paz. <span style="background-color: white;">Eu podia ter-me aproveitado do estado ébrio dele para transformá-lo numa espécie de acordeão humano. Quem me conhece sabe que não sou propriamente um peso pluma... E que bastava assentar o traseiro no pescoço do camóne para ele passar a jantar por uma palhinha para o resto da vida. Mas enfim, decidi ser o "bigger man" e voltei a declinar a oferta, mantendo-me à espera que o coma alcoólico o pusesse fora de jogo. </span><br />
<br />
Acerca dos The Cure dizer que o Robert Smith parece uma das bolas de cotão que apanho quando aspiro a sala mas que ainda assim está em boa forma. Digo musicalmente porque à primeira vista parece a madame Min. Por isso, acabou por valer a pena toda a sevícia física a que me sujeitei e o convívio próximo com jovens pinguços.<br />
<br />
Enfim, fiquei tão destruído ao nível dos membros inferiores que no Domingo pouco aguentei. Deixei os Radiohead a tocar sozinhos e fui-me embora para o vale dos lençóis. De certeza que eles deram por isso e se calhar levaram a mal mas como quando me ponho a cantar no duche também não os vejo por perto acho que também é justo que provem do seu próprio remédio.<br />
<br />
Além disso, fiquei com os índices de malta nova demasiado elevados no sangue.<br />
As próximas semanas vão ser corridas a saladas para limpar isto. Saladas e uma hora de RTP Memória por dia para restaurar o equilíbrio aqui do campeão.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-67747318037858932272012-06-15T02:55:00.000-07:002012-06-18T02:23:42.623-07:00Venha o diabo e escolhaEu devia ser estudado.<br />
E acreditem que não digo isto com orgulho...<br />
Eu devia estar preso num laboratório, 24 horas por dia, com indivíduos a analisarem-me as ondas cerebrais, a estudarem as minhas reacções a estímulos variados e com tailandesas a darem-me massagens com óleos e bálsamos. Ok, a parte das tailandesas era só para minha autorecriação. Mas ainda assim, o estudo aprofundado da minha psique seria um bem maior para a sociedade.<br />
<br />
A questão essencial, essa, é permanente: "Porque é que eu continuo a fazer mal a mim próprio?"<br />
Esta minha tendência para a autodestruição começa a preocupar-me. E atenção que não falo de interesse no suicídio ou de visionamento contínuo de filmes do Manoel de Oliveira... Falo das trapalhadas constantes que começam, a pouco e pouco, a dar cabo de mim.<br />
<br />
Hoje acordei às 7 da manhã para ir ao ginásio.<br />
Sim, eu sei que há coisas mais impressionantes do que essa, mas ainda assim custa-me acordar tão cedo pela simples razão de que me deito sempre tarde. Eu sei que me podia deitar também cedo mas um indivíduo como eu, que tem responsabilidades para com o país e o mundo, ao nível da cultura e da alta finança, não se pode dar ao luxo de descansar muito. Isso e porque costumo ficar a pastelar no computador até doerem os olhos. O problema é que a minha mulher também quer ir ao ginásio dela (hoje em dia deixam-nas fazer tudo) e prefere fazê-lo antes do trabalho. E como costumamos ir juntos para Lisboa não me restam grandes alternativas do que ir com ela e fazer com que os nossos horários coincidam. No entanto, atenção: prego-lhe sempre duas ou três lambadas a meio da A5... Só para marcar a minha posição e para que não me confundam com um choninhas que constrói as rotinas com base nas da cara metade.<br />
<br />
Bom, hoje foi o meu primeiro dia no ginásio novo.<br />
Não que não gostasse do meu ginásio antigo, como provam aliás <a href="http://horadosaguim.blogspot.pt/2011/09/ok-temos-aqui-um-problema.html">este</a> e <a href="http://horadosaguim.blogspot.pt/2012/03/melhor-assim.html">este post</a>, mas o facto de ter vindo trabalhar para Lisboa fez com que o outro local ficasse um bocado fora de mão. Desejo o melhor para o puto dos seios copa D, assim como a todos os outros idiotas de merda, mas a vida obriga-me a seguir em frente.<br />
<br />
O ginásio novo...<br />
A caminho de Lisboa no lugar do passageiro, ainda meio a dormir, engoli um iogurte e uma banana para me ajudar a suportar o exercício matinal. Isto enquanto segurava também no GPS (que a patroa não sabia ir dar ao meu ginásio), o MP3, o papelinho com o código para entrar no raio do sítio, a mala, os óculos de sol e a carteira. Portanto, antes das 8h já eu realizava um bonito espectáculo de malabarismo em plena avenida marginal, arriscando-me a mastigar o MP3 ou a digitar a morada na casca da banana. Portanto, um imbróglio do catano.<br />
<br />
Chegados à capital, deixam-me à porta do tal sítio e fico logo muito impressionado.<br />
É um conceito novo de ginásios low cost mas com muito bom ar, em que o preço baixo vem precisamente do facto de terem o mínimo de pessoas a trabalhar lá... Um pouco como aqueles motéis que se pagam com o cartão no parque de estacionamento e só se sabe que lá estivemos quando a esposa ou esposo descobrem o talão do multibanco. Pelo menos uma ou duas pessoas que lêem este post sabem do que estou a falar.<br />
<br />
Bem, mas cheguei à porta de entrada, carregado com o saco do ginásio, a marmita do almoço, a mala, o MP3, os óculos de sol, a carteira e o papelinho (o GPS e o lixo do pequeno almoço ficaram no carro), portanto com o look "sem abrigo" totalmente a funcionar, cheguei à entrada e deparei-me com o quadro onde deveria digitar o tal código. Desdobrei o papelinho p'ra topar o número e digitei-o uma vez. Não abriu. Outra vez. Voltou a não abrir. Isto enquanto indivíduos passavam para dentro e para fora do local, olhando-me de lado e fazendo caretas ao meu aspecto de vendedor ambulante. Outra vez. Não abriu. Quando começava a ficar desesperado e a ligar à minha mulher (não que ela me pudesse ajudar mas era só para poder reclamar com alguém) apareceu um segurança que me perguntou o que se passava, posso jurar, com uma mão já na lata de gás pimenta não fosse o diabo tecê-las.<br />
<br />
Expliquei-lhe que estava há demasiado tempo a colocar o meu código de seis dígitos no painel e que não conseguia abrir a porta.<br />
<br />
Ele ficou a olhar para mim sem dizer nada.<br />
<br />
Eu olhei uma vez mais para o papelinho.<br />
<br />
Percebi que estava a digitar o código errado...<br />
<br />
"6 NÚMEROS E ESTA BESTA NÃO CONSEGUE ACERTAR COM TODOS!!!", pensei eu.<br />
<br />
Mas não dei parte fraca.<br />
<br />
Sem alterar a expressão facial, voltei a digitar o código e desta vez a porta abriu.<br />
Ensaiei um "ATÉ QUE ENFIM!", irritado, e olhei para o segurança abanando a cabeça como quem diz "Estas máquinas podem ser muito modernas mas só trabalham quando lhes apetece..."<br />
<br />
O segurança não mudou a sua expressão facial.<br />
<br />
Depois, deu-me as boas-vindas tratando-me pelo nome, porque quando se digita o código aparece o nome num ecrã qualquer que não vi onde estava, e começou a mostrar-me as instalações do ginásio, apercebendo-se de que era a minha primeira vez. Sala após sala percebi onde estava tudo, como tudo funcionava e estava pronto para começar a treinar. Pronto e entusiasmado, diga-se.<br />
<br />
Assim, eu e a minha panóplia de tralha dirigimo-nos aos balneários e comecei a tirar as coisas do saco e a colocá-las no cacifo. Marmita, mala, carteira, óculos de sol e papelinho directamente lá para trás, começar a despir, começar a tirar as coisas do saco...<br />
<br />
Ora, ténis... check!<br />
<br />
Toalha... check!<br />
<br />
Chinelas e roupa interior... check!<br />
<br />
Completa e total ausência de calções e t-shirt para treinar... check!<br />
<br />
... <br />
<br />
O QUÊ?!<br />
<br />
... <br />
<br />
Tinha-me esquecido da merda dos calções e da t-shirt...<br />
<br />
... <br />
<br />
COMO ERA POSSÍVEL?!<br />
<br />
COMO É QUE EU TINHA CONSEGUIDO SER TÃO ESTÚPIDO?!<br />
<br />
<br />
<br />
MAIS IMPORTANTE DO QUE ISSO: PORQUÊ?!!!!!<br />
<br />
...<br />
<br />
... <br />
<br />
Agora, lá estava eu, meio despido, a olhar fixamente para um saco do ginásio meio vazio e a suar abundantemente da testa.<br />
<br />
O cacifo já cheio com as minhas traquitanas.<br />
<br />
E eu a avaliar esta merda toda sem saber o que fazer.<br />
<br />
O ginásio completo de malta que de certeza que estava a topar perfeitamente a situação e a gozar o prato.<br />
Eu bem os ouvi a rir...<br />
<br />
O segurança lá fora, convencido de que eu iria treinar pela primeira vez.<br />
<br />
Desespero...<br />
<br />
Olhei para o que tinha e passou-me pela cabeça ir treinar enfaixado na toalha como um faquir. <br />
<br />
Mas cedo concluí que a retirada era a solução mais sensata e menos dada a atrair ainda mais estupidez. Fingi receber uma chamada importante de trabalho e, arrumando as coisas mais depressa do que a Selecção Portuguesa no Euro, dirigi-me para a saída de telefone na mão e sorriso nervoso no focinho. Passei pelo segurança que estava a falar com uma pessoa qualquer e não tive a oportunidade de lhe dar qualquer explicação. Apenas lancei um grunhido surdo e dei corda aos sapatos dali p'ra fora. <br />
<br />
Não sem ter deixado com certeza meia dúzia de pessoas a pensar que:<br />
<br />
A) sou um terrorista que, às claras, deixou lá meia dúzia de bombas e saiu a correr<br />
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B) sou um fervoroso homossexual que paga as quotas no ginásio só para ver os homens nus no balneário<br />
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C) sou um palerma que não sabe preparar o saco de treino<br />
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Sinceramente, venha o diabo e escolha...<br />
<br />André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-166542124906536502012-06-11T05:33:00.001-07:002012-06-11T05:33:57.478-07:00A única verdadeFui ontem ver o Prometheus, o filme que tem feito brotar toda uma panóplia de emoções entre o público cinéfilo. As emoções são muitas mas, a avaliar pelo que se tem escrito na net, poucas delas são positivas: temos desde a indignação ao ódio, desde a raiva ao agastamento e, às vezes, até um piscarzinho de olhos ao desprezo. 'Tá tudo com vontade de dizer das boas ao Ridley Scott ou até, para compor o discurso, de lhe mandar uma chapada na tromba. Eu, que nunca engracei com o senhor Scott, excepto nos incontornáveis Alien e Blade Runner, claro está, também estou consternado. Mas mais por solidariedade à malta do que por outra coisa qualquer. É que o senhor Scott é só um e a turba consternada é, como o próprio nome indica, uma turba! Como tal, eu na dúvida estou sempre do lado daqueles que me podem aleijar menos em caso de descontrolo.<br />
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Se eu gostei do filme? Por acaso até gostei bastante.<br />
Se o Ridley Scott já me fez algum mal? Por acaso até fez. Nomeadamente nas vezes que gastei do dinheiro que me custa a ganhar para ver as inúmeras banhadas do menino. Mas pronto, todos os males do mundo fossem esses...<br />
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Desta vez, o desgraçado prejudicou-me consideravelmente menos do que à maioria das pessoas, admito. Mas ainda assim conseguiu deixar-me preocupado com a porra do filme. Preocupado, leram bem.<br />
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A preocupação é muito simples: depois de visionar uma película em que uma equipa de cerca de dez pessoas parte em busca do segredo da Humanidade e dá de caras com um rico e completo bouquet de mostrengos extraterrestres, de tempestades de sílica e de naves gigantescas daquelas que esmagam (sim, até parece que nunca viram nenhuma...), cheguei à conclusão de que basicamente não estou preparado PARA NADA.<br />
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Aquela malta corre, salta, anda ao soco, rebola, corre outra vez... e tudo isto dentro de uma espécie de fato de astronauta ou lá o que é! Há uma tipa que chega ao ponto de se meter dentro de uma cabine p'ra tirar uma lula do bucho à base de pinça e tudo (uma pinça daquelas que há nas máquinas dos snack-bares e que comigo nem uma merda de um peluche conseguem sacar), e a mulher consegue esta proeza sem perder a estaleca para correr, saltar e andar ao soco. Portanto isto é malta que sabe. E eu, definitivamente, não sei.<br />
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'Tá bem que aquilo é filme. Nem me passa pela cabeça achar que há ali alguma coisa de verdadeiro. <br />
Mas a verdade é que quando vierem p'raí os aliens a abrir caminho "à patrão", determinados a desfazer a Terra com os seus ácidos (que eles andam com ela fisgada já há muito) ninguém vai poder contar comigo para salvar o que quer que seja. Não há dúvida, que o meu perfil é mais o de ser salvo. É para isso que tenho jeito. Mas enquanto houverem damas no mundo, herói nenhum vai desviar-se do seu caminho para safar um indivíduo gordo, careca e barbudo que acaba por constituir um perigo para o próprio salvamento. Para mim é claro como água que seria dos primeiros a patinar...<br />
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Eu até tenho andado no ginásio e assim, mas há arestas que não se limam da noite para o dia. E isso prova-se com uma análise mais detalhada...<br />
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<b>AS 5 RAZÕES PELAS QUAIS NINGUÉM VAI PODER CONTAR COMIGO CASO ISTO DÊ TUDO P'RÓ TORTO AO NÍVEL DE BICHEZA EXTRATERRESTRE!</b><br />
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<b>1) O fato de astronauta</b><br />
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Nem é por ter excesso de peso nem nada. É difícil encontrar calças que me sirvam por causa das minhas proporções, digamos, fora do comum. Há uma ou outra na C&A mas, por exemplo, na Pull&Bear é bem mais complicado. Ora, em plena invasão alien, e caso seja necessário arranjar fatos espaciais, duvido bastante que a C&A seja consultada para o efeito. E como também duvido que venham tirar medidas a este menino para mandarem fazer a vestimenta num alfaiate julgo que estou definitivamente fora da corrida (até porque a alta costura espacial é uma bonita tradição em desuso porque infelizmente "a malta nova não quer pegar nisto"). <br />
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<b>2) O ofício</b><br />
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Sou licenciado em design de comunicação mas muito do que faço profissionalmente envolve a escrita. No entanto, e como é sabido, nestas cobóiadas com monstruosidades de outros planetas são os atletas, os militares, os biólogos, os matemáticos e os cientistas em geral que se orientam melhor e que oferecem mais utilidade. Em caso de aperto, não é com certeza um argumento de banda desenhada ou um conto literário que nos vai salvar. Se os aliens apreciarem ouvir contar histórias sempre posso juntá-los em círculo e ler uma das minhas enquanto um qualquer soldado lhes espeta mísseis pelos tentáculos adentro. No entanto, acho essa hipótese muito pouco plausível.<br />
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<b>3) Correr<br />
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Lá está, tenho exercido actividade física num ginásio mas não sou um corredor de fundo. Em caso de ataque, um tipo tem é de se por "nas meninas" mais rápido do que leva a dizer "CATANO! CUIDADO COM OS DENTINHOS DO MOLUSCO!". Eu sou mais de ir correr para o passadiço que liga o Estoril e Cascais e parar para descansar quando me apetece. Duvido que os monstros respeitassem o meu ritmo de corrida porque boa educação é coisa que não impera em criaturas peçonhentas com manias de dominar o universo. É pena porque acredito que tudo sabe melhor quando feito com cordialidade mas enfim...<br />
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<b>4) O asco<br />
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Não me interpretem mal, não sou nenhuma florzinha de estufa. Mas digamos que há coisas em casa, e a minha mulher sabe do que falo, que me são particularmente difíceis de fazer. Lavar o caixote do lixo ou limpar a casa de banho dos gatos são duas delas. Tenho nojo. Agora imaginem como reagiria se tivesse um polvo humanóide aos saltos em cima de mim, cheio de baba e ranho, a querer envolvimento físico à base de porrada. Ora, eu nem caracóis como. Seria muito difícil comportar-me como um verdadeiro homem perante tão viscoso cenário...<br />
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<b>5) A chamada bulha<br />
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E por falar em porrada chegámos ao último ponto da lista. É certo que poderiam haver muitos mais mas não vos quero maçar. Eu não tenho nada contra andar à bulha, pratiquei karate durante muitos anos e havia quem dissesse que era bastante bom. Não há em Trajouce quem se tenha esquecido das minhas performances em estágios. E quem diz Trajouce diz parte da Abóbada. O karate era uma actividade desportiva que eu gostava mas não propriamente por causa da violência. Tanto quanto possível acho que é sempre melhor trocar os tiros e as explosões por um debate aceso moderado por um jornalista credível. O Júlio Magalhães por exemplo. O que se perdia em espectáculo de fogo de artifício ganhava-se em audiências, o que para mim é sempre preferível...<br /><br />
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Portanto, e mesmo sem que eu tenha desgostado da coisa, o senhor Scott arranjou mais uma vez maneira de me lixar. Nem por um segundo estas questões abandonaram a minha mente enquanto visionava o filme que era, como todos agora, em 3D. Enquanto devia estar a seguir a narrativa e a conhecer os personagens estava a analisar em qual daqueles rochedos é que eu me escondia se ali estivesse... O que não é cobardia, prefiro chamar-lhe de planeamento estratégico.<br />
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Se vierem aí os aliens sou tão inútil como o palhaço Tiririca numa <i>board meeting</i> da Goldmann Sachs. A verdade é esta.<br />
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E até ver é mesmo a única verdade.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-5634958820727259482012-05-28T07:47:00.000-07:002012-05-28T07:55:22.510-07:00Ai a minha cabeça...Há definitivamente 3 coisas que me são difíceis de fazer:<br />
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- escalar o Monte Evereste num triciclo.<br />
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- aviar um cardume de tubarões à chapada.<br />
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- comprar chapéus que me sirvam na cabeça.<br />
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Tudo o resto faço sem grande dificuldade, seja qual fora a tarefa.<br />
Mas a verdade é que, no meu dia-a-dia, não insisto na parte do triciclo e muito menos na dos tubarões. Aceito que até aí não consigo ir e tudo bem, não me chateio nada com isso.<br />
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No entanto, resiste em mim uma fracção que não se conforma com isto dos chapéus, que acha que ainda vale a pena experimentar às dúzias deles na esperança de encontrar um que cubra este crânio gigantesco. Sei que sou louco por sonhar mas os loucos não se condenam... Quando muito, internam-se.<br />
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Aconteceu na passada sexta-feira outro desses episódios inglórios. Eu e a minha mulher decidimos ir ao Alegro de Alfragide com essa missão, certamente alimentada por uma qualquer lenda medieval, daquelas que chegam até nós pelas tradições populares...<br />
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"Atrás do sol posto, onde a montanha encontra as bombas de gasolina do Jumbo, irá luzir o último raio de sol que adivinhará o local preciso onde é possível descobrir um tesouro. O pertence mais valioso de todo o mundo, pela qual pereceram dezenas de cavaleiros. Algo nunca visto pelo Homem. UM CHAPÉU QUE REALMENTE CAIBA NO RAIO DA CABEÇORRA DO SAGUIM!!!"<br />
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Alguma coisa como isto.<br />
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Tenho a dizer que, e como de costume, percorremos uma dezena de lojas e voltámos para casa a apanhar frio na tola (pelo menos de mim falo). No entanto, não foi apenas a dimensão dos vis acessórios que traiu as minhas intenções...<br />
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A primeira loja só tinha bóinas cor de rosa. Imagino que seja a última tendência da moda e acreditem que sou tudo menos preconceituoso. Mas como da última vez que vi não era boiola, decidi deixá-las onde estavam.<br />
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A segunda loja tinha uma colecção de chapéus que faria o Liberace chorar de inveja. A esquizofrénica mostra de cores e padrões levou-me a crer que o Andrea Bocelli arranjou emprego como consultor estético... Mas, cá para mim, tudo o que o afastar da ópera é digno de ser aplaudido.<br />
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Foleirada à parte, tudo o resto (TUDO!), pura e simplesmente não serviu porque os chapéus ou eram pequenos ou a minha cabeça era demasiado grande. Se eu não me importasse de andar na rua à Pato Donald, com uma bóina encavalitada no cocuruto da pinha, talvez tivesse ali um bom leque de opções. Mas como, graças a Deus Nosso Senhor, ainda tenho noção do ridículo e um pingo de vergonha na cara prefiro sempre andar ao natural ou continuar a usar a bóina de sempre (continuo a dizer que foi encomendada à medida e com o pretexto de cobrir um um daqueles balões da Nivea que havia nas praias mas a minha mulher, que foi quem ma ofereceu, jura que não).<br />
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Começo a ficar um pouco cansado com este "problema" recorrente. Coloco-o entre aspas porque admito que não é verdadeiramente um problema senão no 1º mundo. Eu estou preocupado em não encontrar chapéus que me cubram a cabeça em condições enquanto que há populações inteiras que se preocupam antes com a manutenção das próprias cabeças. Sei bem que é uma mariquice mas ainda assim... Tira-me o sono.<br />
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Cheguei inclusivamente a algumas conclusões:<br />
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- Eu sou uma espécie de anão mas um pouco mais esticado. Ou seja, tenho a cabeçorra dum mas mais meio metro do que é habitual.<br />
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- Eu não sou careca, tenho a mesma quantidade de cabelo que tinha há dez anos atrás. O que acontece é que a cabeça continuou a crescer e o coro cabeludo não chega para cobrir tudo.<br />
<br />
- É o preço que tenho de pagar por toda a genialidade com que sou obrigado a viver. Não basta só ser mega-inteligente, há que ter espaço para alojar os neurónios todos. Era bom que os neurónios fossem como os chineses que cabem às famílias de vinte num T0 mas logo por azar não é assim que funciona.<br />
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Enfim, a demanda continua.<br />
Pode ser que encontre um chapéu decente na Amazon ou assim. Ou então sempre posso esperar pelo fim do Rock in Rio e dar um salto à Bela Vista...<br />
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... p'ra ver se há algum toldo que já não queiram.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5925875296381883419.post-8820448532598516652012-05-01T18:15:00.001-07:002012-05-01T18:15:54.254-07:00A trombeta do ApocalipseEste que vos escreve tirou uma semaninha de férias para vir descansar a cabeça p'ra Ferrel, junto à praia do Baleal. Este que vos escreve acordou de manhã todo bem disposto e foi comer uma sandes mista ao café mais próximo. De seguida, este que vos escreve recebeu um telefonema a anunciar que o Pingo Doce estava a oferecer 50% de desconto em todas as compras. Assim, e ainda a mastigar meio pão, este que vos escreve zarpou imediatamente para Peniche.<br />
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Imediatamente.<br />
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Isto porque, e não façamos confusões, este que vos escreve é uma AUTÊNTICA BESTA!<br />
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Hoje testemunhei coisas que nunca esperei em toda a minha vida.<br />
Numa só manhã (e início da tarde) vi o pior do ser humano, e atenção que em muitos dos casos não coloco as mãos no fogo pela parte do "humano". Tudo isto <i>in loco</i> e a encher os cofres do estado holandês. Portanto, foi uma manhã em cheio.<br />
<br />
Perguntam vocês: - Ó saguim, mas estando tu tão descansadinho mais a tua mulher, o que te deu para te enfiares naquilo que os mais esclarecidos apelidarão eloquentemente como "o olho do cú do inferno"?!<br />
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Ao que eu respondo: - Basta pegar na parte que diz "50% de desconto em todas as compras" mais aquela que diz que eu sou uma "AUTÊNTICA BESTA" e fazer a matemática...<br />
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Portanto, às 11h já eu lá estava metido.<br />
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Ao chegar, apercebi-me logo que já não haviam carrinhos disponíveis. Mulheres disformes com aspecto de peixeiras empurravam aos três e quatro em fila indiana enquanto limpavam o focinho dos filhos emplastrados de ranho. Isto enquanto se esqueciam de limpar o seu próprio focinho, loucas que estavam com a oportunidade divina de levarem duas dezenas de pacotes de papel higiénico a preço de ocasião.<br />
<br />(A sério, e isto é só um aparte... QUAL É A CENA COM O PAPEL HIGIÉNICO?! Ficaram tão excitados com a promoção que deixaram de possuir tónus no esfíncter?! É que aquela malta realmente cheirava a merda mas preferi deduzir que fosse pela falta de higiene pessoal e não por qualquer outro motivo mórbido! De todas as coisas que as pessoas podiam levar a metade do preço, afigura-se-me que o raio do papel higiénico foi o primeiro a esgotar nas prateleiras. Eu sei que é uma coisa que não se estraga e provavelmente foi esse o raciocínio dos génios que decidiram ir para casa a acartar às pilhas de Renova mas ainda assim... Dado o preço da coisa não podem ter feito assim tão bom negócio! Enfim, adiante...)<br />
<br />
Assim, dada a ausência dos tão úteis carrinhos de compras eu e a minha mulher contentámo-nos com um cestinho e dois sacos do Jumbo, daqueles mais rijos que nos deram quando fomos tirar o cartão lá deles. Se virem isto como uma traição, azar! Façam também os 50% de desconto se forem capazes e depois conversamos... pode ser que apareça em Alfragide com sacos do Pingo Doce p'ra fazer justiça.<br />
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Portanto, com um cesto e dois sacos lá fomos desbravando caminho por entre a turba de sebosos que se gladiava quase à base de chapada por fruta, congelados e produtos de limpeza. Eu sei que não sou nenhum galã, aliás longe disso, mas acho que nunca vi tanta gente feia junta no mesmo sítio. E atenção que já estive uma vez na casa do povo do Cartaxo... Portanto, estão a ver onde está colocada a minha fasquia.<br />
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Enquanto a minha mulher saltava de um corredor para o outro com a agilidade de um coelho com hemorróidas, eu rezava a todos os santos para não ser jogado ao chão e espezinhado violentamente pela multidão em fúria que vagueava aos tropeções pelos corredores e esfregava o focinho pelos escaparates até não sobrar nada. Vi malta a sacar coisas das prateleiras só para ter o prazer de as atirar para o lado com um gesto de desprezo, assim como quem diz "podia levar esta bosta por metade do preço mas é tão merdosa que nem me vou dar ao trabalho..." Assisti portanto a uma verdadeira exaltação do ego e um reforço da confiança de centenas de pessoas. Mas isso não chegou para que eu me sentisse contente...<br />
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Não se passaram dez minutos desde a minha entrada naquele caos para que me arrependesse solenemente de ali estar. De manhã, a ideia até tinha sido dar um passeio de bicicleta até à praia. Mas foi quando vi diante de mim uma velha com três bacalhaus em cada mão a berrar ensurdecedoramente qualquer badalhoquice para o ar é que percebi que o plano nada tinha já a ver com bicicletas ou com praia... Era o sinal de que a morte estava à espreita. A trombeta do Apocalipse.<br />
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Decidi esconder-me no sector do material de escritório, aquele que, curiosamente ou não, era dos menos movimentados. Fiz do inóspito local uma espécie de "toca" da qual espreitava esporadicamente na esperança de ver a polícia de choque a expulsar com bastante violência a terrível máfia de pensionistas, para que eu pudesse enfim fazer as compras descansado. Volta e meia também fantasiava em como seria bom possuir um lança-chamas. Mas era quando a minha imaginação ia longe demais e soltava uma ou outra gargalhada maliciosa que chegava a minha mulher com mais três latas de polpa de tomate que conseguira arrancar à força das mãos de uma mãe solteira.<br />
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A malta perdera o tino.<br />
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Eu sei que quando digo malta não posso excluir-me... Eu sei que também lá estava.<br />
Também sei que vivemos tempos difíceis e que há que aproveitar mas... fazerem uma promoção destas no primeiro dia do mês, um feriado e ainda para mais no DIA DO TRABALHADOR?! É um convite à mortandade, senhores. Um convite à mortandade.<br />
<br />
Passados singelos vinte minutos já o cestinho e os sacos estavam tão cheios como os olhos da ex-mulher do Paco Bandeira. Hora então de seguir para a fila. E foi aí que começaram os verdadeiros problemas...<br />
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Se há coisa que aprendi no Minipreço de Benfica é que todo e qualquer super ou hipermercado é uma bomba relógio à espera de explodir. Eu não quero apontar o dedo a ninguém em especial mas as culpadas são O RAIO DAS VELHAS!!! Elas podem não estar a dizer nada mas estão sedentas de uma boa zaragata, de um bate-boca ordinário, de poderem soltar grosseiramente aqui e ali um "Vai p'rá tua terra!" Parece que não vêem mas vêem. Elas topam tudo. Sabem se avançámos um centímetro na fila das compras, se parece que eventualmente possamos estar a querer passar-lhes à frente, se dizemos qualquer coisa mesmo em voz baixa que lhes pareça incorrecto. Conhecem de antemão quantas pessoas estão nas filas e quantas estão nas caixas. Elas têm uma perfeita noção do espaço, dos indivíduos que o compõem, dos materias que definem a área e de tudo o que é necessário p'ra começar a berrar alarvidades. É uma técnica amadurecida ao longo de gerações.<br />
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Assim, pouco depois de ocuparmos o nosso lugar na fila para pagar já a minha mulher improvisava à base de discussão para uma velha que tentava furar à mete-nojo, acompanhada pelo neto que se assemelhava muitíssimo a uma bola de sêbo com óculos. Eu olhei para a velha, que parecia travar um combate mais renhido com a própria dentadura do que com a minha mulher, com aquele olhar pacato de quem não está p'ra se maçar. Não me interpretem mal, naquela fase estava capaz de lhe esmagar o <i>pace maker</i> com o último dos peixes-espada que jazia na secção da peixaria, mas ainda assim contive-me e esperei que o assunto se resolvesse por si só. A minha mulher solicitou a intervenção do cigano que estava à frente, e que empurrava mais a mulher uma caravana de cerca de dez sacos e carrinhos que continham praticamente tudo o que é comercializável na União Europeia, cigano esse que rapidamente meteu a velha no lugar e lhe disse que quem tinha razão eramos nós. Houvesse um destes em cada tribunal e amanhã já o Isaltino ia tomar duche à prisão, a apanhar o sabonete ao som de Gipsy Kings. Mas enfim, como não há é a vergonha que é...<br />
<br />
As horas que se seguiram foram de profundo e doloroso sofrimento. Dez minutos de espera, dez centímetros em direcção à caixa, mais dez minutos de espera, mais dez centímetros... Volta e meia a rotina era interrompida por alguém que prendia a minha atenção como uma mulher de meia idade com vestuário amarelo e cabelo pintado de louro que me pareceu muito semelhante ao popular Poupas da Rua Sésamo ou uma outra já com "idade para ter juízo" mas que exibia uma espanpanante tatuagem no fundo das costas que se orgulhava de exibir com orgulho badalhoco enquanto sacava a última garrafa de lixívia dos escaparates... Profundo e doloroso sofrimento.<br />
<br />
Chegámos à caixa já com uma vontade primitiva de chorar, depois de horas a ouvir os comentários da velha que nos queria passar à frente, que não parava de convencer a bola de sêbo do neto a mamar à borla tudo o que havia ali p'ra comer. Durante o tempo que ali estivemos o puto comeu uma tangerina, uma banana, um kit kat e uma embalagem de queijadas. Por mim, também tinha comido com uma murraça na tromba mas como ninguém me perguntou nada acabei por guardar as minhas sugestões p'ra mim próprio.<br />
<br />
O rapaz que estava na caixa deixou-me estarrecido e, só por si, simbolizava este "Dia do Trabalhador". Permanecia calado, rosto imóvel, olhar vítreo... O gesto mecânico e repetido de passar os produtos pelo leitor de infravermelhos. Uma expressão catatónica que parecia querer explodir em pranto num "FUCK MY LIFE" interminável que só poderia acabar em suicídio. Aquele rapaz possuía nos olhos a tristeza do mundo. Mas nem assim se safou de levar um responso da gerente, por causa do quê não cheguei a descobrir, com o argumento de "Tu estás a trabalhar e nós também estamos. Ninguém sabia que isto ia ser assim..."<br />
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Ninguém sabia o quê?!<br />
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Primeiro dia do mês.<br />
Feriado.<br />
50% de desconto!<br />
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Pensavam que a malta ia entrar organizada e respeitosamente pelos Pingo Doces de todo o país e fazer as suas compras de maneira civilizada e humana? Julgam que estão aonde? em Estocolmo?! E depois o desgraçado do puto que dali só pára no Júlio de Matos ou em Custóias é que tem culpa?!<br />
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Enfim, saí de lá pior que estragado.<br />
Por ter decidido passar uma manhã das minhas férias da pior maneira possível e por ter testemunhado as coisas que testemunhei. Esperam-me noites de pesadelos e suores frios que certamente só conhecerão descanso após muitos anos de psicoterapia.<br />
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Crash da bolsa americana, 2ª Guerra Mundial, crise humanitária no Ruanda... pr'a meninos! <br />
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Duro duro foi o Pingo Doce em 2012.André Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/07091301109216062898noreply@blogger.com0